24 abril 2007

UMA PEQUENA HISTÓRIA DEMOGRÁFICA DA PALESTINA ANTES DO NASCIMENTO DO ESTADO DE ISRAEL

Apesar de ter sido uma das regiões pioneiras do aparecimento da agricultura sedentária do período pré-histórico, as próprias condições naturais da região devem ter limitado o total das populações locais a valores na casa de algumas dezenas de milhares (30 a 50 mil) embora esse valor fosse aumentando progressiva e suavemente ao longo dos milénios. Durante a fase terminal da Era do Bronze (1550 a.C. – 1200 a.C.) a população já rondaria os 150 a 200 mil habitantes.

Face a isto, e embora as escrituras mencionem milhões, todos aqueles episódios do Antigo Testamento (como o do êxodo) devem ter envolvido, muito provavelmente, contingentes bastante pequenos, de alguns milhares. Terá sido por conversão posterior da restante população residente a partir desse núcleo duro que apareceu aquele sentido identificativo da população judaica do período monárquico de Israel (1000 a.C. – 586 a.C.).

Sob os reis David e Salomão atingiu-se um zénite da prosperidade regional (por volta do ano 1000 a.C.), também traduzido demograficamente, com a população a duplicar em relação ao período mencionado anteriormente: entre 300 a 400 mil habitantes. A conflitualidade interna fez depois o reino cindir-se em dois (Israel a norte e Judá a sul), com a consequência da população vir a diminuir nos 500 anos seguintes cerca de ¼ em relação a esse níveis.

Para mais a região palestiniana foi, nessa época, conquistada pelos estados caldeus e assírios e tornou-se campo de recrutamento forçado de mão-de-obra para a Mesopotâmia, conforme consta das narrativas bíblicas. Só que, dessa vez e ao contrário de episódios precedentes, os volumes envolvidos, na ordem das dezenas de milhar de emigrados, seriam episódios que tiveram um impacto demográfico significativo na variação dos valores da população regional.

Durante os 500 anos anteriores ao nascimento de Cristo a população terá recuperado e mesmo atingido um novo máximo situado entre as 500 a 600 ml pessoas durante o período do protectorado romano que corresponde ao do nascimento de Cristo. Além de se estar a tratar de uma região superpovoada pelos recursos da época, fica a percepção de que ela continuaria a produzir a cada geração um excedente populacional e jovens emigrantes.

Essa percepção é traduzida pela descrição de comunidades judaicas espalhadas por quase todo o Império romano (no Novo Testamento) e por convulsões políticas periódicas na terra mãe, num processo que poderia assemelhar-se ao que aconteceu na Irlanda do Século XIX e XX. De uma dessas convulsões, mas das mais pequenas, rapidamente resolvida pelo governador local, veio a formar-se um movimento designado por Cristianismo…

Quanto às maiores, os romanos tiveram que reprimir brutalmente uma revolta judaica no Século I da nossa era (66-73), que se repercutiu inevitavelmente num substancial abaixamento dos níveis da população, para, 60 anos mais tarde (132-135), procederem a um extermínio metódico de toda a população por ocasião de outra grande revolta, um verdadeiro método de reengenharia étnica, a lembrar os do Século XX, mas que já havia sido ensaiado pelos romanos na conquista da Roménia (101-106).

Como consequência, exterminada ou banida, a população judaica praticamente desapareceu da Palestina e a população que veio a preencher o vácuo assim criado pertencia às suas regiões adjacentes, países que hoje conhecemos pela designação de Líbano, Jordânia e Síria. Tratava-se de populações árabes, gentias, mas fortemente aparentadas com as judaicas que agora existiam por todo o Império menos ali. Posteriormente, converteram-se massivamente ao cristianismo para depois adoptarem maioritariamente o Islão a partir do Século VII.

Por volta do Século III a população da Palestina voltara a atingir os 350 a 400 mil habitantes e serão esses os valores à volta dos quais oscilarão os seus valores até ao Século XIX. Pontos baixos serão atingidos na fase final da ocupação romana, no Século VII e o período da Peste Negra, no Século XV. Pontos altos serão o do apogeu do Califado, logo depois da conquista, no Século VIII e o da presença dos cruzados, ao longo do Século XII.

Só no Século XIX a população recomeçou a crescer até atingir os 500 mil em meados dele. Em termos confessionais, os judeus, que sempre se cifraram por uns residuais 1 a 2% da população total durante os períodos medieval e renascentista, já rondavam os 10% nos princípios do Século XX, devido à imigração. Em contrapartida, a percentagem de cristãos entre a população árabe local ia diminuindo devido à emigração da comunidade.


O censo de 1922, realizado quando a Palestina se havia tornado um Mandato britânico na sequência da Primeira Guerra Mundial, contou 757 mil habitantes, sendo 590 mil muçulmanos (78%), 84 mil judeus (11%) e 83 mil cristãos (11%). No de 1931, a população judaica (175 mil) já representava 17% da população total: 1.033.000. E em 1948, ano da proclamação do Estado de Israel, a população judaica sozinha subira às 800 mil pessoas…

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