12 junho 2017

O GRÁFICO «MARTELADO» DE JOSÉ GOMES FERREIRA (2) - ACHILLE TALON AINDA NÃO DISSE TUDO

Eu não tenho a pretensão de que o que se escreve por aí me tem por destinatário, bem pelo contrário, o blogue onde escrevo, pelo conteúdo e também pelo suporte onde se localiza, está cada vez mais longe de ser um mainstreamer. Mas a redacção que José Gomes Ferreira deu à resposta às críticas que lhe fizeram na sequência do debate que manteve com o primeiro-ministro foi suficiente abrangente para que eu me sentisse atingido. Ao qualificar-se de vítima de uma «grande fogueira nas redes sociais (...) atiçada pelos novos inquisidores dos tempos modernos» a acusação de inquisidor sobra para todos os que criticaram a sua intervenção nessas mesmas redes sociais, como foi o meu caso. Em concreto, contudo, ele não refutou especificamente aquilo que o critiquei - o facto de ter adulterado de uma forma que não pode ter sido casual o gráfico que exibiu durante o programa (acima). Admito que fosse difícil rebater todas as críticas em detalhe, já que elas se multiplicaram, mas a verdade é que o tempo e o teclado lhe chegaram para dedicar--se ao assunto do grafismo que havia mostrado que se mantinham em vigor (as) medidas de austeridade. Pois. Até pode ter razão. Mas o meu ponto é que, quanto a grafismo e quanto ao único outro gráfico exibido em todo o resto do programa há alguns números do défice do estado que lá apareceram que foram descarada e incompreensivelmente martelados, conforme creio ter demonstrado. E sobre isso não ocorreu a José Gomes Ferreira dizer-nos mais nada.
Sobre aquilo que escreve em sua defesa, teria preferido não me pronunciar. José Gomes Ferreira não parece compreender que, para que as pessoas sejam conotadas com uma determinada facção não é preciso que se comportem como seus incondicionais. É perante estas confusões que se constata como a futebolização se entranha insidiosamente na forma de pensar colectiva. O exercício a que se dedicou em sua defesa ao enumerar as críticas (supostamente técnicas) que endereçou ao anterior executivo de Passos Coelho (e a outros antes dele) resultou num fracasso patético. Porque eu não tenho dúvidas que José Gomes Ferreira pensa pela sua cabeça e não foi um incondicional do governo anterior. Mas isso não o transforma no Jornalista Independente (com maiúsculas) que pretende ser: é só ver a diferença do gráfico corrigido abaixo, com o inicial que ele nos pretendeu impingir durante o debate com António Costa. Um bónus adicional neste último: assinalado a laranja estão as previsões de défices que foram antecipadas em Abril de 2012 no Documento de Estratégia Orçamental 2012-16 (p.30). O governo PSD/CDS já tinha por essa altura dez meses de governação e essa será a melhor estimativa do reequilíbrio que aquele governo pretenderia alcançar adoptando a tal austeridade acelerada. Curiosamente, não me lembro de ter visto José Gomes Ferreira alguma vez a rasgar as vestes por causa deste desvio colossal entre aquilo que os grandes sacrifícios prometiam e o que se alcançou (mas, também confesso, estou muito longe de ser um espectador assíduo dos seus programas...).
Uma coisa se pode dizer contudo, para usar o mesmo género de ironia como António Costa destroçou José Gomes Ferreira: deste último gráfico pode concluir-se que o défice desta última execução orçamental de Mário Centeno em 2016 - o mítico 2,0%! - foi muito pior do que aquele que Vítor Gaspar antecipara para esse mesmo ano (0,5%)... alcançado no papel.

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