23 junho 2017

HÁ 35 ANOS, SOARES CONTRA ZENHA, NÃO HÁ QUEM O DETENHA

23 de Junho de 1982. A reunião da Comissão Política do PS da noite anterior tivera um só propósito e um só alvo: Francisco Salgado Zenha, que fora até aí, e desde as eleições de Outubro de 1980, o presidente do Grupo Parlamentar dos socialistas. Desde 1980 e da controvérsia que envolvera o partido por causa do apoio dispensado à reeleição do presidente Eanes no final desse mesmo ano, Mário Soares recuperara entretanto o controlo do partido no seu III Congresso em Maio de 1981. Mas, para o fazer, Soares tivera que substituir quase toda a equipa dirigente do PS enquanto o seu Grupo Parlamentar, porque fora escolhido (e eleito) em 1980, ficara-lhe (um pouco) fora do alcance. Mas, como se costuma dizer, as vinganças servem-se frias. Demorara mais de um ano, mas a notícia de há 35 anos, que, pelo conteúdo, se percebia ter sido indubitavelmente soprada por uma fonte próxima de Soares, continha passagens de uma certa volúpia vingativa:

«(Zenha) Foi depois veementemente defendido por alguns dos mais proeminentes elementos do grupo conhecido como do ex-Secretariado, nomeadamente por António Arnaut, António Guterres e Vítor Constâncio que, nas suas intervenções, colocaram a questão muito em termos pessoais. Realçaram as qualidades de Salgado Zenha e os serviços prestados ao partido para condenarem a proposta da direcção. Do mesmo modo qualificaram de antiestatutária a decisão da Comissão Nacional e a proposta da Comissão Política.
Mário Soares respondeu imediatamente a António Guterres, acusando-o de ser o principal responsável por uma conspiração visando a desestabilização interna do PS e, nomeadamente, o agudizar das divergências entre ele próprio e Zenha. Guterres em cuja casa se têm realizado, segundo informações já vindas a público, reuniões do grupo do ex-Secretariado, contestou estas afirmações e disse estar disposto a esclarecer as suas posições em conversa pessoal com Mário Soares, que estaria mal informado

Imagine-se! O actual Secretário-Geral da ONU a ser acusado de intriguista e a tentar dar a volta ao acusador com um expediente de treta, propondo-lhe uma conversa pessoal. Porque é que nunca se lembram destes episódios quando da elaboração dos obituários?...

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