21 junho 2017

AS ELEIÇÕES E A TELEVISÃO

As duas imagens são de coberturas televisivas de actos eleitorais. Propositadamente, os momentos referem-se a resultados referentes ao mesmo círculo eleitoral, o do distrito de Viana do Castelo. E existem cinco anos e meio a separar as duas transmissões televisivas. Mas, atenção, não se trata de uma evolução na continuidade: entre Outubro de 1969 (acima) e Abril de 1975 (abaixo) houve um golpe de Estado (25 de Abril de 1974) e uma revolução em curso (o famigerado PREC). E é por isso que vale a pena apreciar e comparar o conteúdo dos quadros que eram exibidos aos telespectadores. Afinal, cinco anos é a duração de um mandato presidencial. Em 1969 as candidaturas eram poucas (4) e no caso concreto do círculo de Viana do Castelo, houvera apenas a concorrência entre o regime (a UN, União Nacional) e uma oposição (a da CDE, Comissão Democrática Eleitoral). Naquele momento o escrutínio já estava encerrado, e os um pouco menos de 40 mil votos haviam resultado numa maioria esmagadora (de 88%, os quadros ainda não mostravam percentagens) à situação. No quadro não está também contemplada a informação respeitante aos mandatos, mas também seria uma informação supérflua, pois, das regras, a lista vencedora ficaria com todos os mandatos (4 - para os mais curiosos sobre estes assuntos vale a pena dar uma espreitada a esta simulação).
Em 1975 as candidaturas à escala nacional haviam-se multiplicado de 4 para 12, das quais havia 9 que se apresentavam pelo círculo de Viana do Castelo. Note-se que neste quadro, apresentado tarde na noite (03H00-04H00 da manhã?), mostrava-se ainda apenas os resultados parciais recolhidos até aí para o distrito. Um dos resultados do 25 de Abril fora a facilitação da capacidade do voto. Como se se tratasse de uma penada, o eleitorado de Viana do Castelo passou dos menos de 40 mil votos de 1969 para o quádruplo disso em 1975: 157 mil eleitores. Eram muito mais votos para contar e o mesmo problema se colocava por todo o país. Como se pode perceber lendo os números de baixo do quadro, mesmo àquela hora, só um pouco menos de ⅓ dos votos haviam sido contados (uns 50 dos 157 mil potenciais eleitores). Mas o número de votos já contados já superava a votação total de 1969. Única organização repetente, a CDE (agora designada MDP/CDE) totalizava 2.324 votos e 5,2%, que eram valores absolutamente superiores mas relativamente inferiores aos que obtivera em 1969. Naquele círculo, o escrutínio afigurava-se prometedor para o PPD, o PS e o CDS (por esta ordem), que iriam repartir entre si os seis mandatos de deputados que o distrito passou a eleger, conforme se pode ver no quadro com os resultados definitivos abaixo. Era toda uma outra legitimidade democrática, a que era conferida pelos 140 mil eleitores de 1975, quando comparada com os 40 mil de 1969.

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