17 junho 2017

A BOMBA «H» CHINESA SURPREENDEU O OCIDENTE (e o Oriente também...)

Há 50 anos a República Popular da China detonava a sua primeira bomba termonuclear que, no calão da época, se costumava designar por bomba «H». O país havia entrado para o muito selecto clube das potências atómicas em Outubro de 1964, quanto detonara o seu primeiro engenho nuclear (designado por bomba «A»). Mas esta promoção na corrida armamentista, que tinha por protagonistas principais os Estados Unidos e a União Soviética, viera colher os especialistas de surpresa, tanta como a apreensão. A evolução de uma bomba «A» clássica (no género da de Nagasáqui) para uma bomba «H» que pode ser dezenas de vezes mais destrutiva fora inesperadamente rápida quando comparada com as referências do que acontecera com os seus rivais: tomara aos cientistas chineses uns meros 32 meses (2,6 anos) a realizar um upgrade que custara aos norte-americanos 86 meses (7,2 anos) de pesquisas, 75 meses (6,25) aos soviéticos e 66 meses (5,5) aos britânicos - e que virá a custar 105 meses aos franceses que acabavam de se ver ultrapassados na corrida. Mais do que isso, o anúncio do ensaio mostrava-o a ser realizado em perfeitas condições operacionais (no vídeo mais abaixo a bomba é largada de paraquedas de um bombardeiro Tu-16).
A ampliar a apreensão, há que não esquecer que por aqueles anos (desde 1966) se vivia na China a Revolução Cultural (Grande Revolução Cultural Proletária) cujos acontecimentos estavam a transmitir para a comunidade internacional uma imagem de imprevisibilidade sobre o que se passaria entre os seus dirigentes (faz lembrar, noutro contexto, o efeito que provoca actualmente a presença de Donald Trump na Casa Branca...). Deve ter sido por isso que Zhou Enlai, o único dirigente chinês a quem a comunidade internacional reconhecia tino e bom senso, se apressou a declarar para o exterior, a um grupo de jornalistas afro-asiáticos (leia-se acima a notícia do Diário de Lisboa daquele dia), o compromisso de que «a China nunca seria o primeiro país a servir-se de armas nucleares.» É que Mao Zedong desenvolvera uma reputação muito pouco confiável quanto ao recurso a esse tipo de armamento, quando afirmara a um surpreendido Andrei Gromyko (ministro soviético dos Negócios Estrangeiros) que os números favoreceriam os chineses na eventualidade de um conflito nuclear...

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