28 junho 2017

«FARM HALL»: A HISTÓRIA DE UMA FÁBULA ALEMÃ ORIGINALMENTE CONCEBIDA NUMA QUINTA INGLESA

Primavera de 1945. Com a invasão da Alemanha e o aproximar-se do fim da Guerra, desencadeou-se a busca pelos cientistas alemães, em que os países ocidentais, encabeçados pelos Estados Unidos, competiam com a União Soviética. A cada um dos campos de pesquisa em que os norte-americanos estavam interessados em saber aquilo que fora desenvolvido pelos cientistas alemães foi atribuído um nome de código. A Operação Alsos envolvia a descoberta das instalações e a busca e captura dos cientistas que tinham estado associados às pesquisas no campo da física nuclear. Já depois da Guerra ter terminado, no começo do Verão, os dez cientistas alemães capturados acabaram transferidos para uma quinta de Inglaterra denominada Farm Hall, onde ficaram por meses em interrogatórios formais descrevendo aos interrogadores o que haviam feito pelo desenvolvimento do projecto nuclear durante os anos do III Reich. A esta fase deu-se o nome específico de Operação Epsilon. Compunham o grupo (por ordem alfabética): Erich Bagge (33 anos), Kurt Diebner (40), Walther Gerlach (55), Otto Hahn (o decano com 66 anos), Paul Harteck (42), Werner Heisenberg (43), Horst Korsching (42), Max von Laue (65), Carl von Weizsäcker (33) e Karl Wirtz (35). Deixando para trás uma Alemanha que colapsara, o facto de se ter sido selecionado para ali estar e para os propósitos confessos de os interrogar não deixava de ser lisonjeiro para os que ali estavam, e eles eram demasiado inteligentes para não perceber isso. Contudo, mais do que os interrogatórios formais, haviam também sido instalados microfones escondidos para captar as conversas entre o grupo, e aí eles eram demasiado ingénuos para se aperceber dessa possibilidade. A atitude inicial do colectivo, depois de instalado em Farm Hall (acima) em princípios de Julho de 1945, era de uma certa sobranceria diante do assédio dos anglo-saxónicos por querer saber em detalhe dos trabalhos para a criação de uma bomba atómica alemã (recorde-se, que os trabalhos equivalentes nos Estados Unidos, o Projecto Manhattan, ainda eram um segredo ultraprotegido). Nas transcrições de 21 de Julho Erich Bagge ainda se mostrava «convencido que (os anglo-americanos) haviam aproveitado os últimos três meses para replicar as nossas experiências»... Na realidade, cinco dias antes os americanos haviam detonado em segredo o primeiro engenho nuclear no Novo México, as pesquisas alemãs estavam anos atrasadas ao que fora conseguido do outro lado do Atlântico. O fim das ilusões dos cientistas alemães só chegou no dia 6 de Agosto às 9 da noite, quando o noticiário da BBC anunciou a detonação da bomba em Hiroxima. Na verdade, havia um interesse mínimo no que os cientistas alemães tinham para ensinar, o que era importante fora impedir que eles caíssem nas mãos dos soviéticos, que haviam desenvolvido a sua própria "contra-Operação Alsos". As conversas dos dias seguintes em Farm Hall estiveram recheadas de conjecturas quanto aos processos que haviam conduzido os anglo-americanos ao sucesso, antes de se focarem nos erros próprios (alguns deles importantes) até que, com o decorrer dos dias e após a contricção, se começou a consolidar uma fábula (lesart no alemão original): a de que as pesquisas dos cientistas alemães não haviam alcançado resultados substanciais por falta de empenho dos próprios. É uma versão inverosímil mas que ainda hoje se impinge. Ninguém gosta de perder e os alemães, se calhar, ainda menos que todos os outros e também não se acanham de inventar histórias para camuflar uma derrota clamorosa. Na verdade e quanto a empenho, tirando os dois cientistas da geração mais velha (Otto Hanh e Max von Laue), a atitude dos restantes cientistas daquele grupo sob o III Reich fora sempre mais do equívoca, e fora precisamente por causa das intenções equívocas da Alemanha que, em Agosto de 1939, Léo Szilárd e Albert Einstein haviam enviado uma carta ao presidente norte-americano (Franklin D. Roosevelt) incentivando-o a desenvolver as pesquisas nucleares com receio que os alemães se antecipassem.

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