16 junho 2017

O CONGRESSO DOS TRABALHISTAS

Londres, 16 de Junho de 1943. Há 74 anos, ainda não se via o fim à Segunda Guerra Mundial e a agência Reuters divulgava esta pequena notícia sobre o andamento dos trabalhos da Conferência anual do partido trabalhista britânico: por uma gigantesca maioria dos votos das bases do partido (73% em mais de 2,5 milhões) fora rejeitado o pedido de filiação apresentado em bloco pelo partido comunista local. Em números, os militantes comunistas à época (cerca de 60.000, um nível nunca mais alcançado depois de 1945) representavam apenas uma gota de água quando comparados com os milhões do Labour. A esquerda britânica, com as suas raízes no movimento sindical, tinha toda uma outra relação com os partidos leninistas completamente alinhados com Moscovo, que eram a norma do continente. A iniciativa (era a segunda vez que os comunistas a promoviam) compreendia-se à luz da inflexão que os comunistas haviam assumido muito recentemente: para apaziguar as inquietações dos seus dois principais aliados ocidentais (Estados Unidos e Reino Unido), Estaline ordenara a dissolução da Internacional Comunista que acontecera precisamente no mês anterior (a 15 de Maio de 1943). A palavra de ordem agora era a da convergência na acção para a derrota do nazismo. Mas a reacção entre as bases trabalhistas foi, como se vê acima, eloquente. Os comunistas britânicos (como os de todos os outros países de resto e em Portugal também) haviam ziguezagueado pateticamente nos quatro anos prévios a 1943, desde a sua recusa mais veemente em apoiar a participação na Segunda Guerra Mundial (depois da assinatura do Pacto Germano Soviético em Agosto de 1939) até ao apoio mais entusiasmado a essa participação (depois da invasão alemã à União Soviética em Junho de 1941). A própria propaganda de guerra, mostrando os aliados russos (os ingleses sempre preferiram esse qualificativo ao de soviético) sob outras luzes mais favoráveis, iria certamente amenizar a desconfiança entre as duas esquerdas, a democrática e a totalitária, mas, por ora, qualquer comunista que se quisesse filiar como militante trabalhista poderia fazê-lo, embora tivesse que o fazer a título individual.

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