Anunciar bombasticamente que os «aliados» árabes cortaram relações com o Qatar deveria ser apenas o preâmbulo desta notícia que todos os órgãos de informação se puseram a difundir. Como de costume as notícias a respeito do gesto copiam-se e quase nada acrescentam umas às outras. Valha a verdade reconhecer que algumas delas já se atreveram a estabelecer uma ligação entre estes acontecimentos e a visita de há quinze dias de Donald Trump à região. Mas, para além da irrelevância neste contexto daquilo que possa acontecer ao Mundial de futebol de 2022 (abaixo) e em sintonia com os expectáveis protestos do próprio Qatar, há qualquer coisa de bizarro nesta associação de acusações à promoção do terrorismo islâmico radical com as impressões que se formam daquele país do Golfo. Recorde-se (o que os jornais portugueses ainda não fizeram...) que o nosso primeiro-ministro esteve lá ainda há menos de um mês (abaixo) numa missão económica. Recorde-se que o Qatar alberga a sede do canal mundial de notícias Al Jazeera (abaixo, imagens de uma cobertura de manifestações pró-democracia no Egipto em 2011), um canal que se sabe ser dessintonizado do pensamento prevalecente entre a maioria das elites dirigentes dos países daquela região. E, para quem goste de aprofundar as suas opiniões, há literatura vária que descreve o Qatar como o país provavelmente mais aberto da região do Golfo e também um dos que mais tem tentado preservar um equilíbrio delicado entre os dois blocos regionais que ali se disputam - o Irão no Norte do golfo versus a Arábia Saudita a Sul (cf. The Gulf States - p. 282 e ss.). Numa perspectiva adicional, há que recordar ainda que o Qatar alberga uma das mais importantes bases militares norte-americanas na região. Tudo isto é muito esquisito. Eu bem sei que estes assuntos não são para ser avaliados com tanta superficialidade e que nestes jogos nunca participam jogadores inocentes, mas, até vir a estar mais bem informado sobre o que causou isto, a predisposição das minhas simpatias vai toda para o lado do Qatar...
Adenda: Foi preciso chegar a noite para que nas televisões se fizesse uma análise mais aprofundada da questão convidando o «especialista» (5 minutos de televisão). E o especialista veio corroborar o que quem sabe onde fica o Qatar já desconfiaria...
É lamentável que os ocs da nossa praça, não tenham alguém que lhes possa abrir os olhos com a competetência do "Herdeiro de Aécio". Excelente "post".
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