Os historiadores não destacam nem, penso, irão destacar Pinheiro de Azevedo para um lugar de grande relevo na história de Portugal do século XX. No entanto, considero haver facetas marginais do PREC(*) em que ele representa, como mais ninguém, o esplendor da época.
Refiro-me, evidentemente, à descontracção de linguagem, nunca vista antes e também nunca mais vista na boca de um primeiro-ministro português.
Não ficou registado para a posterioridade o alegado bardamerda para o fascista, dirigido a alguém que classificava o primeiro-ministro de fascista, no espírito muito revolucionário mas pouco argumentativo daquela época. Mas o comentário, curto e grosso, inserido no espírito da época, soa como a expressão de uma certa saturação com tanto debate ideológico inconsequente.
O famoso bardamerda valeu a pena, nem que fosse para ver a figura ridícula dos comunistas e da malta da extrema-esquerda a mostrarem-se depois ofendidos e indignados, quais tias velhas solteironas, pelos excessos de linguagem – estes sim, verdadeiramente revolucionários – do primeiro-ministro.
Mas, mesmo assim, a televisão salvou monólogos preciosos de Pinheiro de Azevedo, que fluíam aproximadamente assim:
- Então senhor primeiro-ministro o que é que aconteceu?
- Eh pá, o que aconteceu foi que fui sequestrado e eu não gosto… Já é a segunda vez esta semana que sou sequestrado e é uma coisa que me chateia, pá! Não gosto de ser sequestrado!
Refiro-me, evidentemente, à descontracção de linguagem, nunca vista antes e também nunca mais vista na boca de um primeiro-ministro português.
Não ficou registado para a posterioridade o alegado bardamerda para o fascista, dirigido a alguém que classificava o primeiro-ministro de fascista, no espírito muito revolucionário mas pouco argumentativo daquela época. Mas o comentário, curto e grosso, inserido no espírito da época, soa como a expressão de uma certa saturação com tanto debate ideológico inconsequente.
O famoso bardamerda valeu a pena, nem que fosse para ver a figura ridícula dos comunistas e da malta da extrema-esquerda a mostrarem-se depois ofendidos e indignados, quais tias velhas solteironas, pelos excessos de linguagem – estes sim, verdadeiramente revolucionários – do primeiro-ministro.
Mas, mesmo assim, a televisão salvou monólogos preciosos de Pinheiro de Azevedo, que fluíam aproximadamente assim:
- Então senhor primeiro-ministro o que é que aconteceu?
- Eh pá, o que aconteceu foi que fui sequestrado e eu não gosto… Já é a segunda vez esta semana que sou sequestrado e é uma coisa que me chateia, pá! Não gosto de ser sequestrado!
Pode ver-se aqui.
Contudo, o momento de glória de Pinheiro de Azevedo ocorreu durante a manifestação de apoio ao VI Governo Provisório no Terreiro do Paço, promovida pelas forças moderadas (do PS para a direita…), a 9 de Novembro de 1975.
Só em Portugal é que alguém se iria lembrar de encarregar do policiamento da dita manifestação destacamentos de uma das unidades militares de Lisboa mais conotadas politicamente com a extrema-esquerda: a Polícia Militar, que se tornaria num dos últimos redutos revolucionários a resistir a 25 de Novembro de 1975
A manifestação e o discurso de Pinheiro de Azevedo, televisionados para todo o país, foram interrompidos por tiros seguidos do lançamento de granadas de gás lacrimogéneo por parte das forças de segurança, enquanto aquele tentava acalmar os ânimos:
- O Povo é sereno! É só fumaça!
Ao mesmo tempo, saltava linhas do discurso:
- Não quero deixar de terminar… É só fumaça!
Tentou-se apelar mesmo às palavras de ordem, muito motivadoras na época:
- Ninguém arreda pé! Ninguém arreda pé!
Os que gritavam com mais força eram os que estavam a aproveitar para se ir escapulindo pela Rua Augusta acima…
- É só fumaça!
Pinheiro de Azevedo acabou o discurso à pressa porque a fumaça, só, já invadia o balcão de onde discursava. Mário Soares e Sá Carneiro, a seu lado, já estavam de lenços no nariz…
Ao mesmo tempo, saltava linhas do discurso:
- Não quero deixar de terminar… É só fumaça!
Tentou-se apelar mesmo às palavras de ordem, muito motivadoras na época:
- Ninguém arreda pé! Ninguém arreda pé!
Os que gritavam com mais força eram os que estavam a aproveitar para se ir escapulindo pela Rua Augusta acima…
- É só fumaça!
Pinheiro de Azevedo acabou o discurso à pressa porque a fumaça, só, já invadia o balcão de onde discursava. Mário Soares e Sá Carneiro, a seu lado, já estavam de lenços no nariz…
Pode ver-se aqui.
Este episódio, entre o trágico e o cómico, ocorreu-me quando um sucessor longínquo de Pinheiro de Azevedo, ocupou uma boa parte da tarde a apresentar 333 medidas de simplificação administrativa de uma coisa chamada simplex.
Ora, não sendo sportinguista, a minha credibilidade em números cabalísticos acabou com as 5 garras para o leão, apresentadas já há muitos anos por Jorge Gonçalves…
Este episódio, entre o trágico e o cómico, ocorreu-me quando um sucessor longínquo de Pinheiro de Azevedo, ocupou uma boa parte da tarde a apresentar 333 medidas de simplificação administrativa de uma coisa chamada simplex.
Ora, não sendo sportinguista, a minha credibilidade em números cabalísticos acabou com as 5 garras para o leão, apresentadas já há muitos anos por Jorge Gonçalves…
Para não recorrer à outra expressão que deu notoriedade a Pinheiro de Azevedo: É só fumaça!
(*) Para os mais novos: Processo Revolucionário Em Curso.
Era o que se chamava "combater o fogo... com fogo", sem pruridos de linguagem, num exercício "Vicentino" que faz muita falta nestes tempos de carestia!
ResponderEliminarFoi-se a "barda"!!!