In illo tempore, A.E.E. (Antes de Edite Estrela), a pedagogia da língua portuguesa estava entregue a figurões de discurso e escrita soturna, conservadora, reaccionária mesmo, que se alongava por dois ou três extensos parágrafos que nos explicavam que abat-jour era um galicismo a que se devia preferir a expressão quebra luz.
Claro que quem assim pregava não fazia a mínima ideia da classificação social atribuída a alguém que entrasse numa loja de candeeiros e pedisse para ver quebra luzes. Por detrás do sorriso comercial, o empregado classificaria mentalmente a cliente – naquela época normalmente era uma senhora – com adjectivos vários e nenhum deles abonatório.
Depois, muito antes do PS aprovar as quotas e as paridades, chegou Edite Estrela e o seu programa de televisão. E foi salutar ver a pedagogia da nossa língua a ser tratada por alguém que parecia saber os problemas de quem queria comprar abat-jours.
Depois a senhora entusiasmou-se e o êxito televisivo catapultou-a para uma carreira política autárquica. Dessa, ficou o precedente que, a partir daí, qualquer presidente em Sintra tem que ser um rei na pantalha – olhem para mim a evitar usar o galicismo ecrã!
Nesta era D.E.E. (Depois de Edite Estrela) quase que se torna imperativo que o assunto língua portuguesa seja tratado na Televisão e por alguém do sexo feminino com boa apresentação – veja-se o caso mais recente de Bárbara Guimarães.
Sendo homem e barbudo, é pois contra a estética do momento que gostaria de compartilhar convosco algumas reflexões sobre duas expressões modernas do português, caídas em uso e cujo conteúdo me merece alguns comentários.
A primeira expressão é “…a solução passa por…”. Ora, não creio que, normalmente, as soluções não possuam características dinâmicas, tal qual o famoso elefante da anedota que saltitava de nenúfar em nenúfar. Uma solução é para ser, não anda por ali em trânsito.
Claro que se percebe o porquê desta expressão, que permite uma escapatória, no caso de alguém querer contradizer essa solução passante, contrapondo outra. Onde cabe uma, cabem duas, e não é preciso a gente chatear-se por isso…
A outra expressão, usa-se frequentemente quando, ao debater, se procura dar uma imagem de moderação e se emprega o “não se pretendem fazer processos de intenções”. Seria uma atitude extremamente recomendável se não fosse o estímulo que em nós exercido para que façamos isso mesmo.
Ainda ontem, o governo deu grande relevo ao seu plano para proceder à fusão e extinção de dezenas de organismos públicos. Ora eu sempre pressupus que um governo se avalia pelo seu desempenho e pela actividade desenvolvida.
Ao colocar, desta forma tão deliberada, à minha consideração as suas intenções futuras não estará o governo a incentivar-me a que faça um julgamento e “um processo de intenções”?
Claro que quem assim pregava não fazia a mínima ideia da classificação social atribuída a alguém que entrasse numa loja de candeeiros e pedisse para ver quebra luzes. Por detrás do sorriso comercial, o empregado classificaria mentalmente a cliente – naquela época normalmente era uma senhora – com adjectivos vários e nenhum deles abonatório.
Depois, muito antes do PS aprovar as quotas e as paridades, chegou Edite Estrela e o seu programa de televisão. E foi salutar ver a pedagogia da nossa língua a ser tratada por alguém que parecia saber os problemas de quem queria comprar abat-jours.
Depois a senhora entusiasmou-se e o êxito televisivo catapultou-a para uma carreira política autárquica. Dessa, ficou o precedente que, a partir daí, qualquer presidente em Sintra tem que ser um rei na pantalha – olhem para mim a evitar usar o galicismo ecrã!
Nesta era D.E.E. (Depois de Edite Estrela) quase que se torna imperativo que o assunto língua portuguesa seja tratado na Televisão e por alguém do sexo feminino com boa apresentação – veja-se o caso mais recente de Bárbara Guimarães.
Sendo homem e barbudo, é pois contra a estética do momento que gostaria de compartilhar convosco algumas reflexões sobre duas expressões modernas do português, caídas em uso e cujo conteúdo me merece alguns comentários.
A primeira expressão é “…a solução passa por…”. Ora, não creio que, normalmente, as soluções não possuam características dinâmicas, tal qual o famoso elefante da anedota que saltitava de nenúfar em nenúfar. Uma solução é para ser, não anda por ali em trânsito.
Claro que se percebe o porquê desta expressão, que permite uma escapatória, no caso de alguém querer contradizer essa solução passante, contrapondo outra. Onde cabe uma, cabem duas, e não é preciso a gente chatear-se por isso…
A outra expressão, usa-se frequentemente quando, ao debater, se procura dar uma imagem de moderação e se emprega o “não se pretendem fazer processos de intenções”. Seria uma atitude extremamente recomendável se não fosse o estímulo que em nós exercido para que façamos isso mesmo.
Ainda ontem, o governo deu grande relevo ao seu plano para proceder à fusão e extinção de dezenas de organismos públicos. Ora eu sempre pressupus que um governo se avalia pelo seu desempenho e pela actividade desenvolvida.
Ao colocar, desta forma tão deliberada, à minha consideração as suas intenções futuras não estará o governo a incentivar-me a que faça um julgamento e “um processo de intenções”?
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