27 março 2006

OS MAUS E OS PÉSSIMOS

Há um filme de Ettore Scola de 1976, totalmente deprimente e que começa logo a deprimir o espectador pelo título: Brutti, sporchi e cattivi (traduzido para português como Feios, porcos e maus). Não me surpreenderia de que houvesse quem acabasse de o ver e ficasse com uma vontade subconsciente de tomar banho.

Aqueles três adjectivos alinhados podem ser condensados para dois e aplicados aos nossos dois principais partidos políticos. Ontem e anteontem, a propósito das eleições internas falei dos maus, os que agora estão no governo. Convém relembrar que os maus estão no governo, porque os outros são péssimos.

Regressando ao fenómeno Santana Lopes, não podemos considerar que ele seja como uma espécie de meteorito que aterrou na terra. Embora ele tenha falado de escrituras nas estrelas, é bom saber que essa metáfora se fica por aí – pela astrologia.

Muito se tem criticado – na minha opinião, com toda a razão – as atitudes do Zé Manel Barroso e do presidente que chora, Sampaio. O primeiro por ter dado de frosques, ao arrepio dos seus compromissos eleitorais* e sabendo quem iria cá deixar a tomar conta da loja, o segundo por se ter deixado enrolar na manobra ainda alardeando o prestígio para o país de tal nomeação**.

Só que, no intervalo, a questão foi levada partidariamente ao órgão mais qualificado do PSD entre congressos, o seu conselho nacional que tem cerca de uma centena de membros. Relembre-se que, em teoria, a vantagem da existência de órgãos colectivos é a da multiplicação de opiniões que fomentam o debate.

Pelos vistos no PSD o colectivo é muito compacto, pois as votações dos conselhos nacionais foram sempre de maiorias soviéticas em prol da nomeação e da actuação de Pedro Santana Lopes enquanto ele andou por ali.

Houve tempos em que o PSD teve fama de ser um partido de barões com… uma parte mais solta da anatomia masculina que até rima com barões. Estes notáveis modernos do PSD são mais do tipo eunuco. E os eunucos sempre se deram mal com o poder democrático.

Marques Mendes até se pode esforçar por arranjar palavras de estímulo. Ele até goza do privilégio de, notoriamente, ter os seus no sítio por ter sido um dos raros que não apoiou a “solução” Santana Lopes.

Mas todo o resto da equipa de notáveis à sua retaguarda aparece queimada pela suspeita. Parafraseando Baptista Bastos: onde é que eles estavam quando foi a votação para a nomeação de Pedro Santana Lopes?

*Foi a razão invocada pelo primeiro-ministro belga, convidado antes de Durão Barroso.
** Se o prestígio do país de origem é assim tão significativo, convida-se o leitor a descobrir, de memória, qual a nacionalidade do actual secretário-geral da ONU, Kofi Annam… A caixa de comentários está aberta.

1 comentário:

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.