22 março 2006

A CONQUISTA DA FORTALEZA

A propósito do programa televisivo semanal de Paulo Portas, transmitido ontem, mais uma vez, na SIC Notícias, deixem-me levar à vossa consideração uma comparação: a de que a confiança da opinião pública pode ser vista por um político ambicioso (como Portas) como a conquista de uma fortaleza.

Mas, atenção, a sê-lo, será uma daquelas fortalezas de estilo Vauban como a aqui representada, composta por muralhas múltiplas, redutos fechados, baluartes permitindo o cruzamento de fogos. A conquista de um desses redutos não representa a conquista definitiva de toda a fortaleza.

O primeiro factor a decidir é o terreno. Ninguém conquista nada se não dominar e tiver acesso ao terreno adjacente à fortaleza. E o terreno neste caso chama-se comunicação social. Sem ela, Portas passa ao esquecimento, por isso tornou a pôr-se em campanha.

Mas, se a comunicação social define o terreno, os seus agentes (jornalistas) também dispõem de um reduto dentro da fortaleza, um reduto que Portas bem conhece do tempo do Independente. Embora Portas aí tenha amigos, também tem muitos inimigos e encarniçados, não existindo nada da benevolência geral que normalmente reservam ao seu grande rival futuro, Louçã.

No centro é capaz de estar o reduto da torre de menagem dos que se acham líderes de opinião. Aí é território de José Pacheco Pereira, dos 4.000 visitantes diários do seu blog, mais os leitores dos seus artigos do Público, da Sábado, etc. Embora muito selecto – não se perdoa a Portas os acessos de populismo do passado – os habitantes do reduto também não são muito numerosos: a SIC experimentou usar Pacheco Pereira para concorrer com Marcelo na TVI e levou uma tareia.

Próximo, está um outro reduto, o daqueles que se achando bastante diferenciados – palavras de uma amigo meu – não possuem espírito crítico – palavras de outro amigo meu. Exemplos: ainda compram o Expresso ao Sábado, sobretudo para o passear, e ainda levam a sério as análises de Marcelo Rebelo de Sousa na RTP 1, ao Domingo, feitas em alíneas para mostrar método, mas de uma consistência leve, como água gaseificada. É o reduto que não será de todo antipático a Portas: na intimidade há aspectos em que concordam com ele, não o ousando afirmar em público devido à má reputação notória de Portas.

Finalmente há o reduto que rodeia os bairros mais populares que, ouvindo Marcelo na TVI, preferiram o canal ao comentador. Engana-se quem pensa que a maioria das pessoas deste reduto são imunes a uma boa persuasão televisiva. O que lhes é contado tem é que ter enredo, veja-se o sucesso que os programas de José Hermano Saraiva têm, e onde a História não passa de um pretexto para um enredo de fazer inveja a Dan Brown. Só que Portas, nestes redutos, anda com a reputação muito em baixo depois das promessas das pensões para os ex-combatentes.

Portanto, pelo discurso, pelo fatinho, pela postura, iria apostar que Paulo Portas quer disputar a Marcelo a popularidade do reduto do Expresso. Seria o alvo que eu escolheria se estivesse no seu lugar, embora seja uma luta desigual, porque a SIC Notícias não se compara à RTP 1. Contudo, usando este meio, este terreno discreto, baixa as expectativas dos resultados expectáveis e evita, por exemplo, que se possam fazer comparações, para não levar tareias como a de Pacheco Pereira.
Tenho cá um palpite que a este Paulo Portas não o vamos ver na feira...

P.S. – Há um outro comunicador com programa regular, mas não tem reduto. Ou melhor, se tiver, são só muralhas à volta dele (e eventualmente da Judite Sousa). Chama-se António Vitorino e passa à Segunda-Feira, na RTP 1, numa espécie de tempo de antena do PS.

P.P.S. – Falando em comunicadores: alguém sabe de Francisco Louçã?

2 comentários:

  1. Bom exemplo! Vauban foi transformado, de fortaleza, em prisão!
    Léo Ferré aproveitou a deixa e apareceu uma canção: "M.... à Vauban".
    Idem, idem, aspas, aspas, quanto ao destino do "Conquistador"!

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