02 março 2006

HERE THEY GO AGAIN?!...

Ao interrogarem um dos raros prisioneiros japoneses da Segunda Guerra Mundial, capturado na Nova Guiné, perguntaram-lhe quem eram os melhores combatentes na selva. O homem temeroso, com aquele sexto sentido de acertar na resposta que todos os prisioneiros desenvolvem, respondeu: os australianos. Confusos, os interrogadores americanos insistiram: e a seguir? Os japoneses – respondeu o prisioneiro. Então os americanos não são bons a combater na selva? Aí o homem explicou: os americanos não combatem na selva, os americanos removem a selva para depois combater.

Esta tirada aconchegava os egos americanos de tal forma que a escolheram para sair numa das revistas Reader´s Digest do tempo da Guerra. E torna-se simbólica de uma forma de estar típica das forças armadas norte-americanas durante todo o século XX.

Durante esses cem anos, nunca as forças armadas norte americanas se confrontaram com a dúvida sobre quem deteria a superioridade material nos conflitos em que se envolveu ou para que se preparou. E, por isso, ao contrário do que acontece, em maior ou menor grau, com todos os outros exércitos do mundo, quase sempre se teve em pouca conta o recurso às tácticas simuladas de Sun Tzu, à estratégia indirecta de Lidell Hart ou a dar o devido valor às informações e à capacidade de compreender os inimigos.

Quando estes últimos atributos se tornam muito mais relevantes, como na situação em que se trava uma guerra contra-subversiva, os militares norte americanos parecem dar mostras de um autismo e de uma incapacidade de aprender com os próprios erros do passado que desafia mesmo a racionalidade que se pretende dominante nestas questões da história militar.

Recentemente, um articulista do Los Angeles Times, Max Boot, que costuma mostrar um posicionamento ideologicamente próximo dos neo-conservadores, fez uma visita ao Iraque e do relato em primeira mão que dela faz, damo-nos conta que o trabalho de contra-subversão desenvolvido pelos norte-americanos parece ser muito peculiar, para lhe dar um adjectivo benigno.

Tomando como referência o trabalho desenvolvido pelas forças armadas portuguesas durante o período da guerra colonial, a maior semelhança que se lhe encontra em comparação com a descrição de Boot, parece ser o período pós 25 de Abril, entre os finais de 1974 e 1975, especialmente nos aquartelamentos urbanos de Angola, onde as tropas contavam os dias que faltavam para o regresso, enquanto procuravam evitar ser apanhadas no fogo cruzado entre o MPLA e a FNLA e UNITA.

E é evidente, como Portugal descobriu à sua custa, que não se consegue ter uma agenda política quando as tropas têm uma disposição destas. O que parece deixar a escolha da data da retirada americana para um exercício de perder a vergonha que se poderá ler ou ouvir eufemisticamente substituido por conveniência política.

Com o Iraque a ser cada vez mais frequentemente comparado a um Líbano em maior escala, será conveniente que se comece a dar atenção a alguns aspectos verdadeiramente práticos, para situações de contingência: qual é a capacidade dos heliportos da zona verde de Bagdade?

(a fotografia deste texto refere-se à evacuação por helicóptero de norte-americanos e sul vietnamitas da Embaixada americana em Saigão em 1975, horas antes do fim do regime)