05 março 2006

ROME

A última vez que Aécio, de quem este blogue se reclama herdeiro, apareceu na televisão, foi na TVI, num filme americano a propósito de Atila, onde, como de costume, havia os bons, muito bons, e os maus, ignominiosamente maus.

Mas, a propósito desse filme tendencialmente histórico, há um outro aspecto que quero realçar, em que as produções americanas se esmeram como mais ninguém no mundo o consegue fazer: as reconstituições históricas.

As do filme do Atila incluíam um exército romano com a indumentária, as tácticas e o equipamento do período de César (50 a.c.) a travar uma batalha contra os hunos em 450 d.c. Pode parecer um preciosismo, mas o desacerto temporal de 500 anos é quase idêntico ao de filmar o Rambo e o Chuck Norris, vestidos de mosqueteiros, chapéu de plumas e tudo, prontos a combater à espadeirada os vietcongs

E se estes disparates podem parecer segredos de especialista, outros há em que a sua identificação é do senso comum. No filme Gladiator, o gladiador, em pleno circo, desafia o imperador para um combate singular. E ele aceita. Não registei nenhum crítico de cinema referir-se à inverosimilhança da situação. Alguém imagina na actualidade um boxeur no meio do ringue desafiar o presidente Bush, na assistência, pá porrada? E Bush começar a despir o casaco?...

Isto são apenas exemplos de asneiras que se explicam e desmontam num parágrafo e referentes apenas ao período clássico de Roma. Mas são exemplos que se justapõem muito mal junto a pretensões da produção cinematográfica de Hollywood de reconstituição da louça ou da baixela originais do Titanic no filme do mesmo nome. Havendo tanto dinheiro e aqueles resultados é porque há negligência ou ignorância.

Diante deste cenário geralmente desolador, é de saudar uma série televisiva da HBO, Rome, de origem anglo-americana, onde o cuidado, o rigor e a sobriedade das reconstruções históricas é visível. A acção começa pelo ano 51 a.c. e centra-se na revolta de Júlio César, regressado das Gálias, contra os poderes estabelecidos da República Romana, o Senado e os Cônsules, um deles Pompeu.

Há personagens muito sofisticados e muito pulhas e outros muito grunhos. Obviamente que passa com bolinha encarnada porque a moral, o pudor ou o respeito pela vida humana daquela época não tem nada de semelhante ao da actualidade. Se quiserem seguir a recomendação de um herdeiro de Aécio: Rome, Segunda-Feira, às 23H, na 2: Não se cobram bilhetes, nem tenho comissão…