Para uma reflexão sobre como se processam os ciclos dos escândalos na nossa comunicação social, convido o leitor deste blogue a começar por visitar duas páginas da edição do Público de 12 de Dezembro de 2017, vai para mais de seis anos (acima). Estava então ao rubro o escândalo de uma associação de beneficência denominada Raríssimas, vocacionada para o tratamento de crianças com deficiências raras, que fora fundada e até então dirigida por uma senhora muito dinâmica chamada Paula Brito e Costa. A senhora era mesmo dinâmica - os artigos faziam-se acompanhar de fotografias dela acompanhada pela Cavaca, pela Letícia, pelo Marcelo - mas fazer-se-ia cobrar por isso e, parecia, nem sempre das formas mais legítimas e/ou legais. Para a transformar no ogre deste escândalo com crianças, os artigos dos jornais apareciam repletos de descrições de facturas de consumos requintados suportados pela organização, detalhes que alguém com acesso à investigação lhes facultaria para que a opinião publicada compusesse devidamente a imagem da senhora: uma escroque.
Mudemo-nos agora para a edição de hoje do mesmo Público e para outras duas páginas de escândalos, onde, do lado direito, se anuncia a conclusão do julgamento da dita Paula Brito e Costa que se saldou pela sua condenação a dois anos de prisão e ao pagamento de € 12.800 à organização. Como é tradição, houve não sei quantas acusações do MP que caíram... Por uma feliz coincidência, este episódio ocorre quando está ao rubro um novíssimo escândalo, envolvendo fundos comunitários e potenciado pela circunstância de ter dois implicados que dão na TV: Manuel Serrão e Júlio Magalhães. Onde antes eram as depilações e os vestidos de Paula Brito e Costa, agora os jornais mostram-se informadíssimos sobre os luxos das contas de hotel e também o uso das contas bancárias da mãe de Manuel Serrão (acima). O público já está devidamente indignado: um (outro) escroque. Não sei se a associação foi propositada ou apenas um acaso de paginação da edição de hoje, mas o precedente do caso Raríssimas não me parece augurar nada de bom para o desfecho desta Operação Maestro.
Se hipoteticamente os prazos se repetirem - no caso da Raríssimas foram seis anos e três meses entre a eclosão do escândalo nos jornais e a conclusão do (primeiro) julgamento - deito-me a imaginar qual será a pesada sentença que o tribunal atribuirá a Manuel Serrão em Junho de 2030. Como o próprio Manuel Serrão se celebrizou televisivamente: - Diga um!!!!!»
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