29 de Março de 1924. Se as notícias do género da que acima se exibe ainda hoje são raras, e costumam ser protagonizadas por cavalgaduras como Donald Trump, por maioria de razão ainda eram mais raras há cem anos. E por isso merece este destaque. Em síntese, os monarcas romenos (Fernando I e Maria) haviam manifestado a intenção de realizar uma viagem por vários países europeus. Aparentemente, a Itália seria um desses países, e Benito Mussolini, armado em espertalhão (o jornal prefere a expressão «sem papas na língua»), aproveitara a ocasião para cobrar publicamente uma dívida de 113 milhões de libras que a Roménia devia à Itália. Lendo o último parágrafo da notícia percebe-se para onde pendem as simpatias do jornalista: segundo ele, a Roménia é que se devia abster de «um dispêndio enorme de dinheiro para a viagem, quando o país não tem com que pagar o que deve aos seus credores». É o tipo de argumento de quem não percebe nada de nada e que continua tão despropositado quanto estúpido ao fim de cem anos: actualizando o valor da dívida em causa, a que Mussolini pressionava publicamente os romenos a pagarem, estaríamos em presença de mais de € 7.300 milhões em valores de 2024, o que equivaleria a cerca de mil vezes as despesas incorridas com qualquer viagem real. Para além deste despropósito, as simpatias do jornalista até podiam ter ido para os romenos e para o rei Fernando I, que até era neto da nossa rainha D. Maria II. Mas não. Percebe-se perfeitamente que esta notícia nascera em Roma e o autor da notícia acima nem percebeu a envolvente, limitou-se a publicá-la em português.
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