(Republicação)
22 de Março de 1984. Os Reagan recebem os Mitterrand para um jantar de cerimónia na Casa Branca por ocasião da visita do presidente francês aos Estados Unidos. Na fotografia protocolar que precede o acontecimento destaca-se a expressão amarrada de Danielle Mitterrand, cuja explicação só se virá a saber tempos depois e pelos circuitos informais, que, entre os oficiais, o assunto acabou sendo abafado, por conveniência mútua das partes envolvidas. Durante a estadia do casal presidencial francês em Washington D.C., o protocolo local havia arranjado uma agenda paralela para Danielle Mitterrand. Nessa programação, incluía-se um Museu ou uma outra instituição qualquer da cidade que estava estabelecida num edifício que era provido de dispositivos de segurança à porta envolvendo detectores de metais. A convidada - ou alguém por ela - explicou aos anfitriões que, por usar um equipamento de regulação cardíaca, não se devia submeter ao detector. Os anfitriões, num gesto compreensivo mas, ao mesmo tempo, bem republicano no seu igualitarismo, propuseram à visitante que, alternativamente, se deixasse revistar por uma agente feminina. E é aqui que, a tomar por boas as crónicas do incidente depois narradas, Danielle Mitterrand terá perdido alguma parte da razão, recusando a revista e fazendo finca pé no seu estatuto de convidada. Não houve visita, o programa foi cancelado, o desagrado de Madame Mitterrand ficara notado e o incidente diplomático fora registado. Rezam as crónicas que o protocolo americano aceitou os protestos da comitiva francesa... e não fez nada. Era óbvio que os americanos conheciam o estatuto de fachada do casal presidencial francês, adivinhavam a irrelevância do que os ferimentos no amor próprio de Danielle podia ter nas decisões do marido e, como se se tratasse de um bom jogo de poker, no staff da Casa Branca dispuseram-se a pagar para ver se o bluff do protesto francês era para levar a sério. Não foi levado a sério. Tudo o resto que a França desejava com aquela visita era mais sério do que uma primeira dama demasiado ciosa das suas prerrogativas. E, para voltar à fotografia acima, era essa constatação cruel e despeitada da sua insignificância que explica a expressão de Danielle Mitterrand, nesta foto com precisamente 40 anos.
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