16 março 2024

O ACORDO DE NKOMATI

(Republicação)
O Acordo de Nkomati foi assinado em 16 de Março de 1984 entre os mais altos representantes da África do Sul e de Moçambique, respectivamente, o então Primeiro-Ministro P.W. Botha e o Presidente Samora Machel. As duas partes signatárias comprometiam-se a não apoiar os movimentos oposicionistas da outra parte, a saber, Moçambique deixaria de apoiar moral e logisticamente o ANC, enquanto a África do Sul deixá-lo-ia de fazer, material, moral e logisticamente à Renamo. O Acordo ia permanecer letra morta, mas isso ainda não se sabia na altura da cerimónia, quando estas fotografias foram tiradas.
O Acordo representava uma grande vitória diplomática da África do Sul, pela brecha que conseguira criar no ostracismo a que o regime do apartheid havia sido remetido por todos os seus vizinhos africanos. Do outro lado, também Samora Machel provocara uma ruptura no campo ideológico a que pertencia em favor do pragmatismo. Mas, mesmo isso, não impediu que a poderosa máquina comunicacional sul-africana se mostrasse implacável na forma sacana como tratou os novos amigos, observe-se cuidadosamente o instantâneo abaixo que acabou por se tornar numa espécie de fotografia oficial da reunião.
Em primeiro plano e do lado esquerdo aparecem o Ministro dos Negócios Estrangeiros sul-africano Roelof Pik Botha e P.W. Botha, ambos de condecoração ao pescoço(*), o segundo de chapéu clássico na cabeça que lhe dá um aspecto distinto. No outro extremo, está o Ministro dos Negócios Estrangeiros moçambicano, Joaquim Chissano, também com uma condecoração ao peito, só que esta não deveria ser a recíproca sul-africana (**). Mas a figura dominante do instantâneo é mesmo Samora Machel, olhando de uma forma deslumbrada para cima.

(*) Sendo as duas condecorações idênticas e não se vendo outras é muito provável que se tratem de condecorações moçambicanas acabadas de entregar por Samora Machel aos dois.
(**) A condecoração tem um design de inspiração russa/soviética, também muito usado pelos países desse bloco, mas jamais pelos países do outro, como era o caso da África do Sul.

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