5 de Março de 1974. Naquela tarde, o presidente do Conselho Marcello Caetano profere um discurso perante a Assembleia Nacional sobre política colonial, questão que o orador considera «o mais grave problema que presentemente se põe à nação Portuguesa». Ora isto é anunciado num momento em que todos os países ocidentais se confrontam com as severas consequências económicas da crise petrolífera do Outono de 1973. Portugal, apesar de ser um dos países expressamente visados pelo embargo das exportações de petróleo dos países da OPEP, mostra aqui, através das declarações do seu chefe de governo, que atribui mais importância a outras prioridades, o que mostrará, analisado a esta distância, até que ponto o relógio da História em Portugal se encontrava desacertado. E a substância do discurso de Marcello Caetano, abaixo sintetizada no título que foi escolhido pelo Diário de Lisboa, é que a política colonial não mudara e que não ia mudar. Fazê-lo seria «transigir».
Embora hoje, para explicar os acontecimentos, se saiba muito mais sobre o que então estava a decorrer nos bastidores, na época este discurso surgiu sem qualquer explicação prévia - de um dia para o outro - quando as transmissões em directos televisivos e radiofónicos estavam normalmente guardadas para as ocasiões solenes. Mas, apesar de inesperado, a importância do conteúdo daquilo que viria a ser dito era inequívoca. Tanto assim que, transmitido em directo de tarde, ele viria a ser repetido naquele mesmo dia ao serão. O discurso pode ser lido nestas páginas abaixo, ou então escutado na página dos arquivos da RTP. Desconfio que algum do vocabulário que é empregue por Marcello Caetano em prol da manutenção da política colonial deixou de ser inteligível para as gerações mais jovens.
Sem comentários:
Enviar um comentário