29 maio 2018

ROSIE, A REBITADEIRA

29 de Maio de 1943. A edição desta semana da revista The Saturday Evening Post aparece ilustrada por uma capa que é um desenho de Norman Rockwell, um desenho destinado a tornar-se célebre, muito depois do conflito que o motivara (a Segunda Guerra Mundial) ter terminado. Denominaram-no de «Rosie, the Riveter», que eu traduzi para Rosie, a Rebitadeira. Como muitos dos desenhos de Rockwell, também este é mais complexo do que parece à primeira vista. A Rosie - sabemos que se chama assim porque é esse o nome que aparece na lancheira - apresenta-se-nos sentada numa atitude que é descaradamente posada. Mas essa pose autoconfiante é o único retoque da feminilidade tradicional no conjunto. Mais do que gorda, a constituição de Rosie faz-nos lembrar aquelas mulheres maciças e robustas. Só a musculatura dos braços torna plausível que a rebitadeira a ar comprimido, que está depositada no seu colo, seja mesmo o seu instrumento de trabalho e não um adereço. A ganga da roupa, a graxa da cara, reforçam a identidade operária do ambiente. A sanduiche indica que se trata de um momento de pausa, assim como os óculos repuxados para a testa e o visor levantado por cima da cabeça. O segundo assemelha-se a um halo de santo, algo que Rosie não é, considerada a forma como ela simultaneamente espezinha um exemplar do «Mein Kampf». Naquele momento, o desenho é sobretudo um exercício de propaganda de guerra, a maneira de mostrar que os Estados Unidos estavam a mobilizar a sua mão de obra feminina para funções que não lhes eram tradicionais, com o objectivo de aumentar a sua produção industrial. Depois da guerra, o desenho adquiriu outras conotações simbólicas, mas essas já no âmbito das questões da igualdade dos géneros. E, por detrás de um desenho com história, há sempre a história do seu desenho. O modelo de Norman Rockwell para Rosie chamava-se Mary Doyle, tinha 19 anos e era... telefonista. Obviamente mesmo sendo ruiva e respeitando a fisionomia, Mary estava muito longe de possuir a compleição como Rockwell a desenhou. O artista posteriormente contactou-a, pedindo-lhe desculpa por a ter retratado daquela forma tão... avantajada. A última vez que o desenho original foi transacionado e se soube o preço, em 2002, alcançou o valor de 4,9 milhões de dólares.

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