– Aconteceu um incidente curioso com o ladrar do cão – comentou Sherlock Holmes.
– Mas o cão não ladrou! – exclamou o Dr. Watson.
– Esse é o incidente curioso!
Arthur Conan Doyle (O Cão dos Baskervilles)
– Mas o cão não ladrou! – exclamou o Dr. Watson.
– Esse é o incidente curioso!
Arthur Conan Doyle (O Cão dos Baskervilles)
A idade ensinou-me a prestar tanta ou mais atenção às omissões do que apenas àquilo que nos querem fazer ver. A omissões significativas passei-as a designar por episódios de Barkervilles, em homenagem à passagem acima do livro de Arthur Conan Doyle em Sherlock Holmes se pergunta porque é que o cão não ladrou... e devia ter ladrado. E é perante este cabeçalho do Público, em que Bruno de Carvalho se atira às duas primeiras figuras do Estado que nos apercebemos mais nitidamente do ribombante silêncio de todos os agentes políticos a respeito deste último grande escândalo do futebol envolvendo o Sporting. O fenómeno é ainda mais caricato no caso daquelas formações políticas, como serão os casos do Bloco de Esquerda e do CDS, que baseiam a sua comunicação numa incessante barragem de opiniões protagonizadas pelas respectivas líderes, que se pronunciam acerca de tudo. Como certo dia disse Jô Soares num dos seus programas: tudo, do cocó à bomba atómica. Por exemplo, google-se "Assunção Cristas defende" e descobrir-se-á que ela defende: o relacionamento entre Portugal e Angola, que o quadro comunitário de apoio deve ser tratado no Parlamento, que o Parlamento não tem mandato para legislar sobre a eutanásia ou a reconstrução das habitações de férias (de Pedrógão Grande). E Catarina Martins não lhe fica atrás. Google-se a mesma expressão com o seu nome e fica-se a saber que ela defende o investimento na reorganização do território, um fundo de solidariedade para vítimas da legionella, alterações à lei do preço fixo do livro, ou ainda a escolha entre a dignidade e horários de meio dia para os trabalhadores. Frementes entre tantas outros assuntos, nem a uma, nem a outra, nem aos seus partidos, nem a qualquer dos outros partidos com assento parlamentar (PSD, PS, PCP e PAN), se ouviu comentário que se ouvisse condenando os acontecimentos de Alcochete. O facto não é importante porque, reconheça-se, apesar das aparências decorrentes da cobertura desmesurada que lhe é concedida pela comunicação social, o futebol não tem importância nenhuma. É um negócio do entretenimento. Mas é eloquente da cobardia demonstrada pelo poder político perante uma nova forma de marginalidade que, ao contrário da tradicional, é iluminada pelos holofotes da comunicação social.
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