13 de Maio de 1958. De visita oficial à Venezuela, o vice-presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, é escandalosamente mal acolhido na sua chegada a Caracas. Os norte-americanos atribuem os incidentes a uma conspiração comunista, que terá levado os diversos partidos comunistas dos países latino americanos que Nixon visitaria ao longo da sua digressão (Uruguai, Argentina, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela), a organizarem-lhe «comités de acolhimento» em cada uma das escalas. O processo tornou-se hoje num clássico da luta política: recordemo-nos das recepções organizadas pelo sindicato dos professores à ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues quando das suas visitas às escolas. Mas pode voltar-se contra os organizadores, quando estes perdem o controlo sobre os manifestantes. Aí, o visado pode passar a ser a vítima. Foi o que aconteceu em Caracas. A verdade é que, tanto como a antipatia congénita dos latino-americanos pelos norte-americanos em geral (os gringos) e mais do que a hostilidade popular devidamente organizada pela estrutura comunista local, havia uma outra hostilidade institucional das autoridades venezuelanas para com as americanos. Isso é compreensível quando se lê abaixo a notícia de então, em que as próprias autoridades municipais de Caracas se recusavam receber o visitante. Não é abusivo deduzir que o espírito não cooperativo seria extensível às forças de segurança que estavam encarregues de proteger o visitante. E também é importante recordar que a Venezuela de então era uma sociedade habituada a regimes híbridos entre a democracia e a ditadura, de uma brutalidade imposta nas suas relações com os cidadãos. Não havia subtilezas na forma como o Poder reprimia nas ruas aquilo que ele não queria que acontecesse. Os acontecimentos só alcançaram aquelas proporções porque as autoridades venezuelanas se demitiram desde o princípio de os limitar. Os resultados concretos da violência são os que se podem apreciar no vídeo acima, uma péssima propaganda para a Venezuela do ponto de vista diplomático, a suscitar várias reacções institucionais nos Estados Unidos - por exemplo, foi concedida tolerância de ponto a todos os funcionários públicos de Washington D.C. para que fossem ao aeroporto acolher o vice-presidente de regresso desta viagem, tornada épica! Quanto à «interpretação dada pelos americanos à hostilidade de que Nixon foi alvo» (abaixo), as razões podiam ser económicas, dada a mais do que evidente disparidade dos padrões de vida entre a América do Norte e a do Sul, mas repare-se como o último parágrafo do texto remete para «a ofensiva de penetração económica soviética». Está explicado! Refira-se finalmente que há apenas um artigo, e em inglês, na wikipedia referindo este incidente de há 60 anos (nenhum em castelhano, ao contrário do que se poderia esperar tenho em conta o histórico recente das relações entre os dois países), e como ele mantêm, nos seus traços gerais, essa mesma explicação simplista.
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