01 maio 2018

O SUÍCIDIO DE PIERRE BÉRÉGOVOY

1 de Maio de 1993. Há vinte e cinco anos, Pierre Bérégovoy, que fora o primeiro-ministro francês até cinco semanas antes, suicida-se com um tiro. A morte de um político com esta projecção é sempre objecto de inúmeras especulações, tanto mais que o suicida não deixou qualquer documento explicando o seu gesto. Contudo, aquelas que actualmente se considera terem sido as causas mais plausíveis para o gesto serão o escândalo que estaria em vias de eclodir, depois da denúncia, pelo semanário «Le Canard Enchainé» dois meses e meio antes, de uma lista de favores recebidos ao longo dos anos por Pierre Bérégovoy de um seu correligionário e amigo chamado Roger Patrice Pelat, amigo esse que, por sua vez, acabara condenado num escândalo politico-financeiro. Entre os favores de Pelat a Bérégovoy, contava-se o empréstimo de um milhão de francos sem juros, para que o segundo comprasse um apartamento no 16º bairro de Paris. Ele há cada coincidência! O empréstimo tivera lugar em 1986 mas, quando a história veio a público, sete anos depois, ele só fora parcialmente reembolsado e, ainda assim, parte desse reembolso fora em espécie - obras de arte e mobiliário. Outros aspectos então revelados da relação entre Bérégovoy e o seu amigo Pelat têm, para nós portugueses, ressonâncias estranhamente familiares: por exemplo, teria sido Roger Pelat quem suportara as despesas de férias do casal Bérégovoy entre 1982 e 1989. A morte do ex-primeiro ministro francês acabou pondo fim ao inquérito então em curso, que se prefigurava arrasador. Uma lição que nos faz descobrir que, já há 25 anos, havia quem chegasse a tornar-se primeiro-ministro com amigos absurdamente generosos. Lição adicional é a de que, quando essas amizades aparecem denunciadas, há quem sinta vergonha e queira preservar qualquer coisa num último gesto. E há quem não faça nada disso.

1 comentário:

  1. Lembro-me perfeitamente do suicídio de Bérégovoy (e até do pormenor do seu apelido ser de origem ucraniana e depois afrancesado). O PS francês tinha sofrido pouco tempo antes uma imensa derrota (embora menor do que a do ano passado) e Balladur tinha ocupado o seu lugar. Ironicamente, nesse dia, as capas de jornais também falavam de França, por causa dos 25 anos do Maio de 68.

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