Fui buscar à infância as memórias de uma imaginativa história que se intitulava A Bola do Faz de Conta (uma tradução traiçoeira, como se comprova acima, porque a expressão original francesa é um pouco mais contundente: se-fosse-verdade). Em quase cinquenta anos, o exercício de tomar o fantasioso por sério terá galgado os terrenos da BD juvenil para se instalar na imprensa adulta, na de referência mesmo, ao encontrarmos nas páginas da The Economist exercícios como o de especular como teria sido o resultado do referendo do Brexit se todos os britânicos tivessem participado no acto eleitoral do ano passado (abaixo). No The Economist querem-nos convencer que o resultado seria coincidente mas a pergunta pertinente é: que é que interessa isso? Quem quis votar, votou e quem não o fez, foi porque decidiu não o fazer. Qual a importância que poderá representar um exercício de especulação e contabilização das intenções de quem voluntariamente não o quis fazer? Isto não tem nada de semelhante com as sondagens em que se pedem opiniões informalmente numa ocasião em que isso não acontece formalmente, ou então em que se pedem, também informalmente, opiniões específicas sobre assuntos sobre os quais não está prevista fazer uma pergunta formal. Não foi nada disso que se passou com o Brexit. A cobertura da actividade política deve ser sóbria e assente na realidade mas parece cada vez mais diáfana a fronteira entre a ficção e a não ficção política.
Sem comentários:
Enviar um comentário