Como explica a página da Wikipedia que lhe é dedicada, Kilamba Kiaxi é uma nova cidade a cerca de 40 km de Luanda que foi oficialmente inaugurada em 11 de Julho de 2011 (vídeo acima, hoje é o seu sexto aniversário) pelo presidente José Eduardo dos Santos. Segundo o projecto inicial concebiam-se vir a construir 82 mil apartamentos com as respectivas infraestruturas (redes viárias, creches, escolas, lojas, estações de água, de saneamento e de energia) para albergar as várias centenas de milhares de habitantes projectadas para ali viver. Pelo que se pode apreciar na foto abaixo, é uma daquelas obras faraónicas, de fazer lembrar os colossais projectos dos antigos países comunistas. Ajuda a essa imagem arquitetónica bisonha, o facto da empreitada das fases iniciais - que está avaliada nuns 3,5 mil milhões de dólares - ter sido entregue, inteira, a uma grande construtora chinesa. O resultado pode ser apreciado na foto e sobretudo no vídeo mais abaixo, em que as imagens colhidas do automóvel dão a impressão que ele está a passar sempre pelo mesmo sítio (para mais ao som depressivo da Bitter Sweet Simphony dos The Verve).
Mas a monotonia da paisagem urbana de Kilamba, a repetir erros que se deixaram de cometer noutros lugares do Mundo há 40 anos, é, foi, ou terá sido, o menor dos problemas associados ao grandioso projecto. Concebido numa época de vacas gordas para Angola, o grande projecto notabilizou-se por se ter tornado num fracasso imobiliário de dimensão correspondente nos anos imediatamente seguintes à sua inauguração: os milhares de apartamentos foram postos à venda a preços completamente fora das possibilidades dos angolanos* e a cidade tornou-se famosa, mas por se ter tornado numa cidade fantasma e como exemplo de um empreendimento megalómano perdido no meio de uma África negra pobre e carente de quase tudo, que ali malbaratava os seus recursos. Muito se fala da venalidade das elites angolanas mas aqui o que realça é a sua incompetência e estupidez, ao conceberem um projecto para uma classe média angolana... que não existia. Claro que esse problema específico da ocupação acabou sendo ultrapassado com uma redução acentuada (40%) do preço das casas - agora, adivinhe-se é quem suportará os prejuízos do projecto?...
É difícil, senão mesmo quase impossível, acompanhar as vicissitudes acima descritas com o projecto de Kilamba Kiaxi através daquilo que foi sendo publicado na comunicação social angolana ao longo dos anos. É mais fácil ter uma imagem do fiasco seguindo uma reportagem da CNN do que seguindo uma da televisão estatal angolana, a TPA (não percam esta última, especialmente as declarações do ministro do Urbanismo e Construção a querer convencer-nos que o secretário-geral da ONU de então, o coreano Ban Ki Moon era um entendido da Remax angolana...). Porém, quatro anos depois da inauguração e tendo Angola atingido em 2015 o período das vacas magras, com a queda substancial do preço do petróleo, as notícias mais recentes da centralidade de Kilamba descrevem-na, surpreendentemente, como uma cidade africana normal nas suas anormalidades, com os seus tradicionais problemas de criminalidade (abaixo) ou de falta de manutenção das infra-estruturas como as tradicionais faltas de recolha do lixo.
* 125 a 200 mil dólares por apartamento.
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