17 julho 2017

«BOUILLON DE CULTURE»

Hoje, em conversa, acabei por me referir ao Bouillon de Culture, um programa cultural da televisão francesa, que esteve em exibição por lá (Antenne2) durante dez anos (1991-2001), num formato que era fortemente influenciado pelo estilo do seu apresentador, Bernard Pivot, e que por cá serviu de inspiração à programação cultural televisiva dessa mesma época. Mas a edição específica do Bouillon de Culture que valeu a referência (porque me marcou a memória) foi uma dedicada especificamente à cultura portuguesa e que teve a particularidade de ter sido gravada em Lisboa no palácio Fronteira (o marquês, anfitrião, foi um dos convidados da emissão), que acabou sendo transmitido também na RTP em Junho de 1998.

Foi interessante ter encontrado no Youtube dois trechos, ainda que breves, desse programa, ainda que concentrados apenas na intervenção de Manuel Maria Carrilho, à época ministro da Cultura do governo de António Guterres. Apesar da sua brevidade, os trechos foram suficientes para me fazer reviver o desconforto com que recordava a participação do ministro no programa. Até poderíamos culpar o pedantismo condescendente de Bernard Pivot para justificar a atitude submissa de Manuel Maria Carrilho (um ministro que ali parece estar a ser interrogado numa oral pelo professor!), não fora sabermos da arrogância altaneira genética de Carrilho que ele, de resto, tantas vezes manifestou noutras ocasiões.

Lembro-me que na altura me envergonhei do lado de cá do ecrã e, ainda agora, tenho dificuldade em arranjar explicação para aquelas atitudes axandradas que foram ali protagonizadas por pessoas que, supostamente e é por isso que ali estavam, deviam não se impressionar com a sofisticação altaneira do apresentador. Quanto a Bernard Pivot, fez-me lembrar uma definição que o general de Gaulle - nem de propósito! - tinha a respeito dos comunistas: «Fazem o que lhes permitem e permitem o que lhes fazem». Que foi assim, podem ir ver o vídeo de como o mesmo Pivot se relacionou com Woody Allen quando o teve como convidado no Bouillon de Culture, a começar pelo facto de Allen ter conversado na sua língua materna...

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