26 de Julho de 1975. Há quarenta e dois anos o país acorda para um fim de semana de Verão que se pretendia retemperador e de uma certa acalmia política com a notícia de que passara a ser dirigido por uma troika revolucionária: Otelo Saraiva de Carvalho, Vasco Gonçalves e Costa Gomes. Quanto à comunicação social que notícia o facto, a primeira página da edição abaixo do Diário de Lisboa desse Sábado é emblemática do ambiente e da atitude como os acontecimentos são acompanhados e noticiados - se, sob Salazar o mote fora "Tudo pela Nação, nada contra a Nação", o jornalismo e os jornalistas típicos do PREC só lhe mudaram uma palavra e em 180º a atitude: "Tudo pela Revolução, nada contra a Revolução".
Uma leitura dos cabeçalhos da primeira página é eloquente: além dos Três generais no topo do poder, haviam sido aprovados os estatutos da Intersindical (única central sindical autorizada); o V Governo (provisório dirigido por Vasco Gonçalves anunciava-se) praticamente constituído (na verdade só tomaria posse dali por mais duas semanas...); em Angola o MPLA proclama resistência popular ...e, resistindo, expulsava os movimentos rivais de Luanda; e, em antecipação dos contornos do que seria a nova justiça popular, José Diogo era libertado (julgado por assassinato, descobria-se que a culpa afinal era do morto por ser um latifundiário parasita).
Lendo o detalhe, aquilo que fora dito pelas 23H30 do dia anterior pelo capitão Duran Clemente como porta-voz da Assembleia do MFA, constava do seguinte:
«A Assembleia do Movimento das Forças Armadas, reunida extraordinariamente no dia 25 de Julho de 1975, iniciou-se com uma exposição do presidente da República que apresentou questões e pontos de reflexão sobre a actual crise política.
Iniciando-se a ordem dos trabalhos pelo momento político nacional, o primeiro-ministro fez uma análise sobre a situação politica.
A Assembleia pronunciou-se sobre autoridade e segurança da Revolução, tendo concluído pela necessidade de uma forte direcção política. Nesse sentido, foi aprovado o seguinte:
1º Concentração do poder político-militar nos seguintes membros do Conselho da Revolução: presidente da República, general Costa Gomes; primeiro-ministro, general Vasco Gonçalves; comandante do COPCON, general Otelo Saraiva de Carvalho.
2º O plenário do Conselho da Revolução passa a constituir um órgão de conselho dos três membros elementos referidos no número anterior.
3º Qualquer eventual alteração à composição do Conselho da Revolução far-se-á nos termos da Lei nº 5/75 por decisão da Assembleia do Movimento das Forças Armadas.
A Assembleia debateu, demoradamente, a questão da disciplina revolucionária em toda a sua amplitude, e no próprio seio do Movimento das Forças Armadas. Decidiu pela actuação com firmeza, contra elementos que, com intenção contra-revolucionária, criem um clima de agitação popular e dificultem as tarefas de construção do Socialismo.
Por último, foram feitas exposições sobre a situação nos Açores e apreciadas as recentes medidas tomadas e em curso para a solução dos respectivos problemas no arquipélago.»
Quarenta anos depois de Duran Clemente, pudemos apreciar mais recentemente (em 2015) com outra troika revolucionária e com um outro PREC, desta vez pela pena de João Miguel Tavares uma reedição do mesmo raciocínio. Embora tratando-se de duas alternativas francamente antagónicas, unia-as a perspectiva de ambos de que não havia alternativas às respectivas alternativas. Pessoalmente eles até se podem odiar, mas são tão feitos da mesma massa...
Lendo o detalhe, aquilo que fora dito pelas 23H30 do dia anterior pelo capitão Duran Clemente como porta-voz da Assembleia do MFA, constava do seguinte:
«A Assembleia do Movimento das Forças Armadas, reunida extraordinariamente no dia 25 de Julho de 1975, iniciou-se com uma exposição do presidente da República que apresentou questões e pontos de reflexão sobre a actual crise política.
Iniciando-se a ordem dos trabalhos pelo momento político nacional, o primeiro-ministro fez uma análise sobre a situação politica.
A Assembleia pronunciou-se sobre autoridade e segurança da Revolução, tendo concluído pela necessidade de uma forte direcção política. Nesse sentido, foi aprovado o seguinte:
1º Concentração do poder político-militar nos seguintes membros do Conselho da Revolução: presidente da República, general Costa Gomes; primeiro-ministro, general Vasco Gonçalves; comandante do COPCON, general Otelo Saraiva de Carvalho.
2º O plenário do Conselho da Revolução passa a constituir um órgão de conselho dos três membros elementos referidos no número anterior.
3º Qualquer eventual alteração à composição do Conselho da Revolução far-se-á nos termos da Lei nº 5/75 por decisão da Assembleia do Movimento das Forças Armadas.
A Assembleia debateu, demoradamente, a questão da disciplina revolucionária em toda a sua amplitude, e no próprio seio do Movimento das Forças Armadas. Decidiu pela actuação com firmeza, contra elementos que, com intenção contra-revolucionária, criem um clima de agitação popular e dificultem as tarefas de construção do Socialismo.
Por último, foram feitas exposições sobre a situação nos Açores e apreciadas as recentes medidas tomadas e em curso para a solução dos respectivos problemas no arquipélago.»
Quarenta anos depois de Duran Clemente, pudemos apreciar mais recentemente (em 2015) com outra troika revolucionária e com um outro PREC, desta vez pela pena de João Miguel Tavares uma reedição do mesmo raciocínio. Embora tratando-se de duas alternativas francamente antagónicas, unia-as a perspectiva de ambos de que não havia alternativas às respectivas alternativas. Pessoalmente eles até se podem odiar, mas são tão feitos da mesma massa...
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