Convenço-me que entre as razões que contribuem para ampliar o ultraje como está a ser acolhida a legislação sobre o confisco dos bens dos refugiados se prende com o facto da medida ter sido votada no parlamento dinamarquês (Folketing), um país escandinavo e não noutro qualquer. A Dinamarca, conjuntamente com os outros países nórdicos, sempre cultivou uma imagem internacional de benemerência vinda de uma sociedade que gozava de um padrão de qualidade de vida superior ao dos outros países. Só que essa superioridade material e também moral do modelo nórdico estará agora, ironicamente, a voltar-se contra quem a promoveu com tanta eficácia. Tanta, que mesmo fora da Escandinávia não se esperam atitudes egoístas como as que estão a ocorrer. As habilidades que seriam apenas compreensíveis se ocorridas noutros parceiros europeus, tornam-se particularmente chocantes, quando passa a ser a Suécia a anunciar que vai expulsar 80.000 migrantes. É curioso, e não vi isso devidamente destacado, o comportamento dos políticos locais perante tão grave problema: a votação do Folketing dinamarquês com 179 deputados que aprovou o controverso confisco dos bens dos refugiados teve o seguinte resultado: houve 81 votos favoráveis à lei, 27 desfavoráveis, ainda 1 abstenção, mas sobretudo 70 ausências significativamente oportunas. Estas últimas corresponderam a 39% dos parlamentares dinamarqueses. Mesmo contando com a revelação da política dinamarquesa que constituiu a famosa série televisiva Borgen, e sem ter a ousadia de especular o que os 70 deputados teriam votado se se dispusessem a ter estado presentes, é possível constatar quanto uma significativa parcela dos políticos de lá e de cá se podem equivaler na cobardia de se evadirem a mostrarem as suas convicções políticas.
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