A 25 de Maio de 1976, o Diário de Lisboa anunciava com este destaque de primeira página que as tropas cubanas abandonavam Angola. Citando em discurso directo o próprio líder cubano: Cuba já iniciou o repatriamento das suas tropas de Angola. E a notícia prosseguia, esclarecendo que aquelas palavras constavam de uma carta que Fidel Castro endereçara ao primeiro-ministro sueco Olof Palme que, não por acaso, naquela altura recebia em Estocolmo o secretário de Estado norte-americano, Henry Kissinger. Nessa missiva, Castro explicava as razões para o envolvimento cubano em Angola, sublinhando que o comprometimento cubano em África se limitaria a Angola, para empregar as próprias palavras do redactor da notícia do Diário de Lisboa. Para quem o não saiba, este era um dos vários jornais portugueses nacionalizados, (quase) todos simpáticos para com a causa cubana e internacionalista progressista em geral, mas o futuro encarregar-se-ia de demonstrar o chorrilho de mentiras que, involuntariamente, acabara de publicar. No ano seguinte e por onze anos (1977-1988) Cuba ir-se-ia envolver no conflito entre Etiópia e Somália em apoio do governo revolucionário do primeiro país e o verdadeiro abandono de território angolano só aconteceria dali por 15 anos (1975-1991). Recorde-se que, com toda a solidariedade do internacionalismo proletário, Cuba esteve engajada na guerra civil angolana durante mais tempo do que Portugal o esteve com a sua guerra colonial. Nestes tempos em que há a tendência para tratar Fidel com os carinhos de um ursinho de peluche, convém que não apaguem a Memória. As memórias da rapaziada e as preocupações com o seu apagamento são sempre muito selectivas...
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