Venceslau Pompílio da Cruz é um nome hoje injustamente desconhecido dos portugueses. Foi ele o pioneiro que, logo nas primeiras eleições presidenciais do regime democrático realizadas em Junho de 1976, estabeleceu as regras das famosas candidaturas presidenciais que o próprio já sabe que vão ser recusadas mas que, mesmo assim, se apresentam só pelo valor da publicidade que lhes está associada. É assim que, em 29 de Maio de 1976, o Diário de Lisboa noticiava que havia cinco concorrentes à presidência (Cinco Nomes para Belém: Ramalho Eanes, Otelo Saraiva de Carvalho, Pinheiro de Azevedo, Octávio Pato e o nosso amigo Pompílio) para, passados uma meia dúzia de dias, com um destaque noticioso muito mais modesto, a candidatura do último ser desqualificada por não possuir nem metade das 7.500 assinaturas que eram necessárias para a formalizar. Entenda-se: não se tratava de uma falta de umas quaisquer 150 assinaturas, atribuível à boa vontade de quem quisera arredondar as contas rezando para que tudo corresse pelo melhor; a falta era de mais de 4.000 assinaturas e só atribuível a quem quisera, obviamente bem à portuguesa, ver se o barro colava à parede.
Em todas as eleições presidenciais subsequentes o expediente ter-se-á popularizado. Tornou-se tradicional que aparecessem uma, duas, três candidaturas marginais rejeitadas por causas que seriam evidentes à priori. Muito embora depois viessem a ser castigados pelo oblívio total da memória colectiva - veja-se a injustiça cometida com o próprio pioneiro Pompílio da Cruz - ser-se candidato a candidato era uma forma de se conseguirem os tais 15 minutos de fama a que se referira Warhol. E vale a pena destacar, de entre os mais recentes, alguns veteranos esquecidos como Josué Rodrigues Pedro (que foi candidato a candidato em 2001, 2006 e 2011), Diamantino Maurício da Silva ou Luís Botelho Ribeiro (ambos repetentes de 2006 e 2011). Sempre excluídos por razões antecipáveis: por exemplo, o último dos mencionados (entretanto falecido) na sua última candidatura de 2011 havia entregue apenas 200 assinaturas das 7.500 necessárias para a sua formalização. Tornava-se até lícito perguntar(-lhes) porque é que se fazia perder assim o tempo e a paciência dos outros... Por todas estas razões históricas, confesso-vos o meu cepticismo quanto à viabilidade de todas as dez candidaturas presidenciais para as eleições de 2016, quando do anúncio da sua apresentação. E a minha surpresa quando todas elas foram validadas pelo Tribunal Constitucional. Pela primeira vez que me lembre e em 40 anos e à 9ª eleição presidencial, não apareceu nenhuma candidatura à Pompílio da Cruz...
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