06 novembro 2015

EXPLIQUEM-ME LÁ, DEVAGARINHO, COMO SE EU TIVESSE QUATRO ANOS

De concreto sei que Nicolau Santos é director-adjunto do Expresso e como opinião formei a de que ele é pessoa que não tem receio de assumir os erros e de pedir desculpa pelos que cometeu. O que só me deixa como hipótese para explicar o problema a minha ignorância de como funciona a orgânica interna de um jornal como o Expresso. Eu explico qual é o problema: um pouco antes das eleições, o governo terá montado o que hoje se percebe ter sido uma manobra, prometendo a devolução de uma fracção apreciável da sobretaxa do IRS (notícia do Expresso abaixo, à esquerda); decorridas as eleições, já não era bem assim (notícia do Expresso abaixo, à direita). Quem ler uma e outra notícia, com um mês de diferença e com autores distintos, não vai encontrar qualquer referência da posterior à inicial. Até parece que foram publicadas em jornais diferentes e até parece que o Expresso não foi agente activo da manipulação que depois denuncia. Sinteticamente: deu muito mau aspecto. Depois disso, é o director-adjunto do jornal que também escreve sobre o mesmo assunto (acima) mas, apesar da sua reputação corajosa de se ter assumido enrolado pelo hoje célebre Artur Baptista da Silva, o panoramaneste caso não se modifica. Não se lê no que escreveu nenhuma justificação penitenciada (ou não...) do próprio em nome do Expresso pelo facto do jornal ter embarcado na manobra governamental. Arrisco-me a concluir que, naquela organização, os níveis hierárquicos não carregam consigo a consequente responsabilização e um director-adjunto opina com o mesmo distanciamento que um cronista convidado. Ou tudo isto só terá acontecido a ver se os leitores estavam distraídos?...
A frase inicial é uma adaptação do pedido irónico que a personagem de Denzel Washington (o advogado Joe Miller) fazia às testemunhas no filme Filadélfia

2 comentários:

  1. Podemos ser sempre mais ou menos condescendentes com as pessoas e as situações, dependendo de quem ou o que está em causa. Numa interpretação mais maldosa, também pode ter acontecido que os “especialistas” do Expresso que sustentaram o teor do subtítulo “Governo conta com 35% MAS SIMULADOR DO EXPRESSO APONTA PARA VALORES ENTRE 60% e 100%” não estivessem a ser vítimas de manipulação, antes pelo contrário, pretendessem ser eles a manipular.

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  2. Ora aí está uma boa hipótese alternativa, que não se deve descartar.

    Parte-se sempre do pressuposto da inocência do jornalista versus a manipulação do agente político quando aquilo que se tem vindo a descobrir é que esse é um território muito nublado, de fronteiras muito fluidas, onde jornalistas passam a assessores de imprensa e vice-versa na rendição dos partidos no poder.

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