24 novembro 2015

O PODER DOS DOCUMENTOS

Em política pode haver documentos que valem muito menos pelo conteúdo do que por quem os assina. Há quarenta anos, durante o Verão Quente do PREC apareceu um desses documentos, conhecido originalmente por Documento Melo Antunes (autor) e posteriormente por Documento dos Nove, em alusão aos nove membros da ala moderada do MFA que o assinaram originalmente. Não importaria assim tanto o conteúdo do documento (na sua candura, Vasco Lourenço, um dos nove, terá confessado tê-lo assinado sem o ler) mas aquilo que representava como contestação à linha prevalecente (pró-comunista) até aí no MFA. Depois foi o que se soube, de 8 de Agosto até ao 25 de Novembro de 1975. Há documentos assim que, sem um grande valor intrínseco aparente, podem servir de catalisadores de inflexões políticas importantes - será talvez também o caso destes tão esmiuçados acordos tetralaterais entre PS, BE, PCP e PEV. O de há quarenta anos, procurava mostrar que haveria alternativas àquele socialismo, o actual procurando mostrar que pode haver alternativas ao liberalismo. Mas o que mais me interessa recordar neste género de documentos é como a sua utilização e o seu combate são mais do que ideológicos e permanecem transversais no estilo a todo o espectro político: no dia seguinte ao da sua publicação, o Documento dos Nove era apreciado no Diário de Lisboa pelos partidos políticos, com os editores do jornal a começar por dar destaque (antes dos principais partidos PS, PPD e PCP) às críticas contundentes do MES (organização que não conseguira eleger qualquer deputado à Constituinte...), onde, por curiosidade, pontificava, entre outros, Eduardo Ferro Rodrigues, o actual presidente da Assembleia da República...

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