William Vance é o pseudónimo do desenhador belga William Van Cutsen (abaixo), nascido em 1935 em Bruxelas. De entre o enorme elenco de autores daquela que é conhecida como a escola de banda desenhada franco-belga do pós guerra, considero William Vance o desenhador que mais se aproxima do traço realista. Alguns dos desenhos das suas histórias, especialmente os do início da sua carreira, onde se esmerava (ainda mais) nos detalhes, chegam-me a parecer planos de cinema.

O seu primeiro herói foi
Howard Flynn, um oficial da
Royal Navy dos finais do Século XVIII e embora as histórias (da responsabilidade de
Yves Duval) não
voem muito alto, é um regalo ver as pranchas onde se acumulam os detalhes minuciosos dos navios de época. O mesmo se passa com
Ringo (abaixo), um
Western que seria banal, não fora o detalhe e rigor com que aparecem desenhados os uniformes confederados da Guerra Civil norte-americana ou uma diligência da Wells Fargo, por exemplo...

Com a criação de
Bruno Brazil, Vance abandona as aventuras históricas e muda-se para as histórias de espionagem (da autoria de
Greg), provavelmente na senda do sucesso obtido por
James Bond naquela época. Mas as personalidades de
Bruno Brazil, um agente secreto norte-americano, e dos outros membros da sua
Brigada Caimão têm a mesma
densidade da do famoso agente secreto britânico 007, com licença para matar: quase nenhuma.

Mas as histórias de
Bruno Brazil tiveram uma popularidade muito superior às das suas antecessoras.
Bob Morane foi outro herói desenhado por Vance com a competência do costume, também com as histórias a versar o tema da espionagem, embora a esta se junte o imaginário da ficção científica. Mas a evidência da qualidade do trabalho de Vance quando associado a uma boa história e a um bom argumentista começa-se a ver com
Ramiro.
Com o argumento de
Jacques Stoquart,
Ramiro é o filho bastardo de um Rei de Castela (
Afonso VIII, 1155-1214), e a acção – que é extremamente bem documentada e minuciosamente desenhada – decorre numa Península Ibérica medieval que não costuma aparecer nos livros de história, onde o predomínio pelo controlo peninsular ainda está a ser disputado – e está muito longe de estar decidido… – entre cristãos e muçulmanos, numa espécie de
guerra civil e religiosa.

Apesar da qualidade (considero-a a série mais equilibrada de todas as desenhadas por Vance), é compreensível que o tema e época escolhidos se tornassem um obstáculo à sua popularidade. Essa chegou finalmente com o aparecimento de
XIII (mais abaixo), em parceria com os excelentes argumentos de
Jean Van Hamme. A história de
XIII, é a de um agente operacional amnésico que parte em busca do seu passado, que está associado a uma grande conspiração.
Regressando um pouco ao figurino
Brazil (
XIII é norte-americano), mas agora com a solidez da imaginação de Van Hamme por detrás,
XIII acabou por se tornar uma série de acção e intriga que ganhou a categoria de
série de culto, sobretudo entre as gerações mais novas. Qualquer pessoa da geração do
Tintin semanal não deixaria de sorrir ao ler uma etiqueta nos álbuns de
Bruno Brazil promovendo-os por serem do mesmo desenhador de
XIII…

Além de continuar a desenhar
XIII, que se tornou naturalmente a sua imagem de marca, Vance regressou aos temas da sua predilecção através de
Bruce J. Hawker, outra história da
Royal Navy dos princípios do Século XIX ou repegando
Blueberry, o herói de
Jean-Michel Charlier e
Jean Giraud, para, em colaboração com este último, desenhar
Marshal Blueberry, uma sequela das aventuras do famoso tenente e um pretexto para desenhar mais uns uniformes e umas paisagens do Oeste…
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