19 agosto 2007

GOLDFINGER

Será um exagero considerar Goldfinger o meu filme favorito com James Bond. A expressão favorito costuma pressupor algo que se destaque de um nível médio de qualidade, o que não me parece que aconteça com a maioria dos filmes de acção de Bond. Mas Goldfinger será o filme de que gosto mais, provavelmente porque será aquele em que o agente 007 parece mais frágil e por isso mais credível.
O mau – Goldfinger – é irrecuperavelmente mau, como todos os maus dos filmes da série, mas este tem o requinte do ar sinistro de um antigo Sturmbannführer das Waffen SS, forçado a mudar de vida depois de 1945*. Essa interpretação faz do enredo do filme num acerto de velhas contas de guerra entre alemães e americanos (o assalto ao ouro de Fort Knox…) e da presença de Bond na de um insuportável intrometido britânico.
Bond deixa que lhe matem duas das namoradas (Jill e Tilly Masterton - acima a primeira), engata outra que não passa de uma balzaquiana, embora bem conservada (Pussy Galore**) e não consegue desactivar sozinho o detonador nuclear na cena crucial do filme. Mas o mais emblemático da completa falta de argúcia de Bond é o diálogo travado por ele com Goldfinger, quando submetido a uma tortura que o conduzirá a uma morte lenta (abaixo):
- Do you expect me to talk?
- No, Mr. Bond. – responde GoldfingerI expect you to die***(...)
Na entoação da sua resposta manifesta-se o desprezo por um inimigo que recorre a um expediente tão ridículo para tentar atrasar a sua execução. Por segundos (Bond salva-se, obviamente…) aquela demonstração de falta de inteligência e subtileza torna a personagem consistente com tudo o resto que conhecemos dela…

* O actor Gert Fröbe (1912-1988), que desempenha o papel de Goldfinger, era de nacionalidade alemã (a sua voz foi dobrada), fora mobilizado durante a Segunda Guerra Mundial e fora membro do NSDAP (partido nazi). Mas não fizera parte das SS.
** A actriz Honor Blackman (1925- ) tinha 39 anos na altura da rodagem do filme e é cinco anos mais velha que Sean Connery que faz de Bond, James Bond
*** Espera que eu fale? Não, senhor Bond. Espero que morra. Não há nada que me possa dizer que eu não saiba já...

4 comentários:

  1. "Goldfinger" tem talvez o mais vibrante dos temas musicais dos James Bond, cantado pela voz admirável da não menos atraente Shirley Bassey que enchia o saudoso São Jorge.
    E Sean Connery continua insubstituído, até hoje...

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  2. Francamente, eu não consigo ser fã do 007, "My name is Bond, James Bond"

    Ainda os últimos, com o Pierce Brosnan, sempre têm algo de interessante a ver (o actor, entenda-se lol) mas mais nada, são vazios de conteúdo, deixei pura e simplesmente de ver.

    Beijinhos :)

    Cristina Loureiro dos Santos

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  3. O Pierce Brosnan é tão expressivo como uma múmia, parece ter feito dez liftings.
    Mas enfim gostos não se discutem.

    O Sean Bond marcou uma época, é um ícone dos anos 60, como "Um homem e uma mulher" ou, noutro género, "Música no Coração".

    Hoje, esses Bonds colheita 60 parecem-nos ingénuos (não tanto como Miguel Portas), mas os modernos em nada se distinguem dos inúmeros filmes de acção a abarrotar de efeitos especiais.

    É a idade, Cristina, que nos torna assim, românticos, nostálgicos e piegas...

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  4. As minhas preferências para as bandas sonoras dos 007 são, por razões diferentes e por uma ordem cronológica, Goldfinger (Shirley Bassey), You Only Live Twice (Nancy Sinatra) e Nobody Does It Better (Carly Simon) do filme The Spy Who Loved Me. Mas Goldfinger é a música que mais associo ao genuíno Bond, James Bond.

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