03 agosto 2007

CÉU DA COREIA

Como já tive oportunidade de aqui me referir, a Guerra da Coreia teve um primeiro ano muito dinâmico, que foi seguido de dois anos (entre 1951 e 1953) de impasse e guerra estática. Como já acontecera na Primeira Guerra Mundial, parece que a a aparição de situações como essa estimulam a transferência do interesse da disputa para outros campos, nomeadamente os combates aéreos.
Na Coreia, a disputa pela obtenção da supremacia aérea sobre o Teatro de Operações, uma aquisição que era considerada vital pelo alto comando das forças das Nações Unidas (norte-americano), para além do choque de tecnologias entre os MiG-15 soviéticos (acima) e os F-86 norte-americanos (abaixo), era ainda mais apimentada pela participação encapotada dos pilotos soviéticos no conflito.
Considerados os níveis de formação e instrução muito semelhantes entre pilotos norte-americanos e soviéticos (1), as características dos dois caças a jacto operados por cada um dos lados eram suficientemente próximas para, aproveitando os pontos fortes do próprio aparelho e explorando os pontos fracos do aparelho adversário, o combate aéreo podia tornar-se num verdadeiro exercício de habilidade e virtuosismo (2).
Contudo, as circunstâncias clandestinas associadas à participação dos pilotos soviéticos naquela guerra limitava a sua área de intervenção, uma vez que, se fossem abatidos, não se podia correr o risco de que fossem capturados pelos norte-americanos. A sua principal missão limitou-se assim a protegerem a cadeia de abastecimentos vindos da China, numa área aérea que ficou conhecida pelos americanos por MiG Alley (3) (ver mapa abaixo).
Houve muitas disputas ferozes e muitos aviões abatidos, e mesmo hoje, depois do fim da Guerra-Fria, continua a ser muito difícil fazer uma contabilidade rigorosa de quem abateu quem e quantos foram abatidos e qual dos lados terá vencido a guerra no ar – uma questão de pormenor, visto que no solo e onde realmente conta, a guerra terminou empatada com a assinatura de um Armistício a 27 de Julho de 1953...
O complexo de superioridade dos ocidentais, que mesmo depois da Segunda Guerra Mundial continuavam a considerar os russos como tecnologicamente atrasados (4) é que sofreu um rude revés, perante as prestações do MiG-15. Não só a NATO atribuiu ao aparelho o nome de código de Fagot (5) como houve histórias de BD (acima, a capa de Ciel de Corée (6) de 1953) sobre o tema que foram censuradas e estiveram banidas em França até 1969…

(1) Ao contrário dos pilotos chineses e norte-coreanos, cuja formação era muito mais rudimentar.
(2) Na actualidade, o desfecho dos combates aéreos dependem primordialmente da sofisticação técnica do equipamento electrónico de cada aparelho.
(3) A melhor tradução será Travessa dos MiGs, porque os russos operavam numa faixa aérea muito estreita e não se podiam afastar muito da fronteira sino-coreana.
(4) Como já acontecera com os japoneses durante a Segunda Guerra Mundial e com o Mitsubishi Zero...
(5) Tem a mesma sonoridade que faggot correspondente a Maricas em calão norte-americano. Todos os aviões soviéticos tinham uma designação de código dada pela NATO. No caso dos caças o código começava sempre por F: Fagot, Fresco (MiG-17), Farmer (MiG-19) ou Fishbed (MiG-21).
(6) Publicadas na revista semanal belga Spirou, as duas histórias intervencionadas foram Ciel de Corée (Céu da Coreia) e Avions sans Pilotes (Aviões sem Pilotos). O herói é Buck Danny e o desenhador Victor Hubinon.

1 comentário:

  1. Como os aviões eram equivalentes, enquanto os americanos não perceberam o que lhes estava "a cair em cima", tiveram imensas baixas.
    Quando os veteranos da II Grande Guerra entraram no conflito... entenderam e "fizeram um desenho" aos novatos. A partir daí a sorte dos combates aéreos mudou de lado!

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