Tendo-se tornado moda, chega a tornar-se engraçada a veemência que se coloca na condenação das actividades da ASAE (Autoridade de Segurança Alimentar e Económica), com os seus elementos a serem descritos como os maus que tiram o pão da boca aos honestos comerciantes nas reportagens de jornal, são equiparados ao regime da Coreia do Norte em blogues ou, sensação desta temporada de Verão 2007, são ridicularizados por andarem a apreender as bolas de berlim aos vendedores de praia, por causa das condições de falta de higiene.

Gozar com as bolas de berlim e denunciar mais tudo o resto parece ser assim um caso clássico de apontar para a Lua e ficar a olhar para o dedo, em que mais ridículo fica quem goza do que aquele que é gozado. Creio que não pode ser culpa da ASAE que não estejamos habituados a ter organismos públicos eficientes que tenham por missão fiscalizar e, imagine-se lá, sejam eficientes: fiscalizam! E também não é responsabilidade da ASAE que o conjunto legislativo que eles estão encarregados de fazer cumprir contenha tantos detalhes absurdos…

Parece que em Portugal (e nos países do Sul da Europa, em geral) está convencionado de há muito que existe uma legislação escrita que normalmente não vale quase nada e há uma outra prática, oral, essa para cumprir. Esse modelo dualista só se torna incomodativamente patente nas suas contradições quando se tenta implementar na prática a legislação teórica, veja-se o caso recente do escândalo das multas dos radares para controlo da velocidade do trânsito em Lisboa, que estão aferidos para limites de velocidade estabelecidos na longínqua década de 1950, mas ainda em vigor*…

Em conclusão, embora possa sentir-me muito minoritário ao afirmá-lo, eu gosto que exista um órgão de fiscalização que… fiscalize – independentemente do aproveitamento mediático de quem está à sua frente possa fazer… E acessoriamente, até gosto que esses gestos sirvam de instrumento de denúncia deste estilo nacional em que a legislação é levada excessivamente em tom de brincadeira. É que, se todos levarmos, como parece que levamos, o respeito pela lei em jeito de brincadeira, não podemos estranhar que alguns acreditem que o seu desrespeito (abaixo) também possa ser levado do mesmo modo…

* Que nenhum partido teve, até agora, a coragem política de alterar para valores reais, as velocidades praticadas pela esmagadora maioria dos automobilistas…
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