Ao longo do segundo semestre de 1960, um país que nos é tão próximo como a França, e que ao tempo era dirigido pelo general de Gaulle, decidiu conceder a independência a 14 das suas colónias africanas. Mas no Portugal dirigido por Salazar continuava a agir-se politicamente como se todos esses acontecimentos não nos afectassem nem tivessem importância alguma, ao mesmo tempo que as decisões dos grandes agentes económicos nacionais acompanhavam o poder político no seu esclerosamento e autismo.
A 29 de Abril de 1960, por encomenda da Companhia Colonial de Navegação (CCN) e tendo por madrinha a esposa do seu presidente do conselho de administração (D. Maria Teresa Soares da Fonseca), era lançado à água o paquete Infante D. Henrique. Em resposta, a 22 de Setembro do mesmo ano, por encomenda da rival Companhia Nacional de Navegação (CNN), foi lançado à água o paquete Príncipe Perfeito, cuja madrinha foi D. Ana Mafalda Guimarães José de Mello…
A 29 de Abril de 1960, por encomenda da Companhia Colonial de Navegação (CCN) e tendo por madrinha a esposa do seu presidente do conselho de administração (D. Maria Teresa Soares da Fonseca), era lançado à água o paquete Infante D. Henrique. Em resposta, a 22 de Setembro do mesmo ano, por encomenda da rival Companhia Nacional de Navegação (CNN), foi lançado à água o paquete Príncipe Perfeito, cuja madrinha foi D. Ana Mafalda Guimarães José de Mello…
Foram os dois maiores navios de passageiros que a marinha portuguesa alguma vez possuiu, o orgulho da nossa frota. Só hoje consegue perceber-se quanto eles já estavam destinados a envelhecer prematuramente no dia em que foram lançados à água: ultrapassados politicamente, porque foram concebidos para as ligações entre Portugal e as suas colónias, um quadro político ameaçado de desaparecer; ultrapassados tecnicamente, porque o transporte aéreo de passageiros ameaçava eliminar a curto prazo o concorrente marítimo.
Concebidos para se rivalizarem, os dois navios tinham características semelhantes. Por um lado, o Infante D. Henrique (acima) media 195,6 metros de comprimento e possuía 24.400 toneladas de deslocamento com alojamentos para 1.020 passageiros sendo 160 em primeira classe e 860 nas outras classes. O Príncipe Perfeito, por sua vez (imediatamente abaixo), media 190,4 metros de comprimento e possuía 20.200 toneladas de deslocamento com alojamentos para 1.000 passageiros: 200 em primeira classe e 800 nas outras classes.
Numa das raras condescendências ao mundo novo, menos tolerante a uma estratificação social tão vincada, a segunda e terceira classe dos navios passaram a designar-se pelos eufemismos de turística A e turística B. Dá-se a casualidade de ter sido passageiro dos dois, em viagens entre Lourenço Marques e Lisboa. Tendo viajado como júnior não os posso comparar devidamente, embora quem o pudesse fazer destacasse o carácter mais imponente dos espaços e das decorações do Infante D. Henrique, embora preferisse o Príncipe Perfeito, mais acolhedor.
De qualquer forma, apesar de terem sido um vestígio anacrónico da história, sinto-me um privilegiado por, mesmo numa época tão tardia quanto 1970, ter ficado com memórias dessas oportunidades em que os funcionários e militares responsáveis pelo Império se ofereciam um período de repouso de luxo, com esses rituais meio intangíveis que se designavam por vida a bordo, coisas de um tempo onde o tempo era outro para se fazer grandes viagens e que, no resto do mundo, praticamente acabara com a Segunda Guerra Mundial…
Concebidos para se rivalizarem, os dois navios tinham características semelhantes. Por um lado, o Infante D. Henrique (acima) media 195,6 metros de comprimento e possuía 24.400 toneladas de deslocamento com alojamentos para 1.020 passageiros sendo 160 em primeira classe e 860 nas outras classes. O Príncipe Perfeito, por sua vez (imediatamente abaixo), media 190,4 metros de comprimento e possuía 20.200 toneladas de deslocamento com alojamentos para 1.000 passageiros: 200 em primeira classe e 800 nas outras classes.
Numa das raras condescendências ao mundo novo, menos tolerante a uma estratificação social tão vincada, a segunda e terceira classe dos navios passaram a designar-se pelos eufemismos de turística A e turística B. Dá-se a casualidade de ter sido passageiro dos dois, em viagens entre Lourenço Marques e Lisboa. Tendo viajado como júnior não os posso comparar devidamente, embora quem o pudesse fazer destacasse o carácter mais imponente dos espaços e das decorações do Infante D. Henrique, embora preferisse o Príncipe Perfeito, mais acolhedor.
De qualquer forma, apesar de terem sido um vestígio anacrónico da história, sinto-me um privilegiado por, mesmo numa época tão tardia quanto 1970, ter ficado com memórias dessas oportunidades em que os funcionários e militares responsáveis pelo Império se ofereciam um período de repouso de luxo, com esses rituais meio intangíveis que se designavam por vida a bordo, coisas de um tempo onde o tempo era outro para se fazer grandes viagens e que, no resto do mundo, praticamente acabara com a Segunda Guerra Mundial…
Era também nessa altura que os tugas iam para França com malas de cartão.
ResponderEliminarOs bons tugas, que cumpriam os seus deveres cívicos, antes de ir para França com as malas de cartão deviam ter feito um cruzeiro (com estadia de 24 meses...) no Manuel Alfredo, no Uíge, ou no Vera Cruz.
ResponderEliminar(Trata-se dos nomes de paquetes - menos luxuosos que os do poste - que eram fretados para o transporte de tropas para as colónias)
Se a minha memória não falha, creio que o "Príncipe Perfeito" ainda navegou uns bons anos, com tripulação portuguesa, fretado para cruzeiros, com partida da Alemanha, para os "fiords" da Noruega - utilizados por muitos alemães para reverem paisagens dos anos 40...
ResponderEliminarDepois disso ainda navegou, tendo como portos de partida Buenos Aires e o Rio de Janeiro para cruzeiros no Amazonas, subindo o rio até Manaus.
Mais tarde, perdi-lhe o rasto!
Creio porém que alguns dos cruzeiros acima citados já foram feitos sob bandeira grega, embora com a maioria da tripulação portuguesa.
A minha memória falhou!
ResponderEliminarO navio que ainda "sobreviveu" à ida a pique da nossa marinha mercante e que fez aquilo que atribuí ao "Principe Perfeito"... foi o "Funchal"!!!