Os finlandeses têm um idioma muito exclusivo. A entrada da Finlândia para a História da Europa foi feita através dos suecos que lhe deram o nome pela qual a conhecemos. Mas os próprios finlandeses designam a sua terra por Suomi e daí a justificação de se empregarem as iniciais SF (Suomi-Finland) como referência à Finlândia. O sueco ainda é, a par do finlandês, idioma oficial da Finlândia e falado coloquialmente por uma minoria. Mas os finlandeses em geral cultivam, em relação aos seus vizinhos escandinavos aquilo que se pode designar, da forma mais benigna possível, como uma saudável rivalidade. Nokia e Ericsson representam mais do que rivalidade comercial…
O grande problema finlandês é que os vizinhos do outro lado ainda são piores… No seguimento das várias vicissitudes das várias Guerras Napoleónicas a Finlândia foi transferida da suserania sueca para a suserania russa em 1809. Apesar de no final da história (1815), tanto a Suécia como a Rússia estarem ambas do lado vencedor (contra a França), ao bom estilo da época, a Suécia foi compensada com a Noruega e a Finlândia preparou-se para um século de convivência com o Império Russo. A figura jurídica, tal como acontecia com a Polónia, era a de uma união pessoal do monarca: o Czar da Rússia era também Rei da Polónia e Grão-Duque da Finlândia.
O historial das relações entre o Grão-Duque e os seus súbditos é muito mais distendido do que o do Rei com os seus... Durante o período mais liberal do reinado do Czar Alexandre II (1855-1881), a Finlândia teve oportunidade de recriar a sua Dieta* (1863), que se pôde bater por alguns privilégios específicos, como o da identidade religiosa (evangélica), linguística (o finlandês foi equiparado ao sueco) e autonomia económica (moeda própria). Contudo os Czares que se sucederam, Alexandre III (1881-1894) e Nicolau II (1894-1917), travaram, quando não reverteram mesmo, essa tendência e o país estava maduro para a independência em 1917.
Note-se contudo que, ao arrepio da imagem retrógrada do Império Russo, a Finlândia czarista do princípio do Século XX estava na vanguarda em alguns aspectos sociais: os membros da Dieta passaram a ser todos eleitos em 1906, e foi um dos primeiros países a instituir o sufrágio universal – incluindo o voto feminino**. Depois da primeira Revolução Russa de Fevereiro de 1917, a Dieta finlandesa, que havia sido eleita em 1916, mas ainda não se reunira, foi convocada. Outro sinal da especificidade social finlandesa: mesmo em eleições realizadas durante o período czarista, havia na Dieta uma ligeiríssima maioria social-democrata (103 membros em 200)…
As relações entre o Governo Provisório russo, chefiado por Alexandre Kerensky, e a Dieta finlandesa não tardaram a azedar. Kerensky decretou a dissolução da Dieta. Não por causa do decreto de Kerensky, mas porque os sociais-democratas finlandeses agiam de forma concertada com os seus homólogos russos, de acordo com os ideais de então do internacionalismo, e os seus opositores agiam com o apoio evidente dos alemães, houve novas eleições que puseram os sociais-democratas em minoria na Dieta (Outubro de 1917). Sensivelmente um mês depois, os bolcheviques e Lenine alcançavam o poder em São Petersburgo.
A Dieta aproveitou esse momento de fraqueza do poder central russo para proclamar a independência da Finlândia (6 de Dezembro de 1917), para ela vir a ser reconhecida a 31 de Dezembro pelos soviéticos. E em Janeiro de 1918 começou a Guerra Civil finlandesa entre Vermelhos e Brancos, que se prolongou até Maio do mesmo ano. Tratou-se de uma guerra que tanto teve de disputa ideológica, quanto de disputa dos interesses estratégicos de duas potências (Rússia e Alemanha) travados por interpostas partes. O poder russo estava despedaçado, o alemão ainda intacto, e quando estes últimos decidiram participar directamente (Abril) na Guerra, o resultado ficou decidido.
A cobrança da conta da intervenção germânica traduziu-se na eleição pela Dieta, em Outubro de 1918, de um príncipe alemão, Frederico Carlos de Hesse, como novo Rei da Finlândia. Mas o reino nem tempo teve de ver o Rei (abdicou em Dezembro…) porque a derrota alemã no final da Primeira Guerra Mundial (11 de Novembro de 1918) tornou a deixar a República da Finlândia (Julho de 1919) sem potência protectora que a defendesse das inevitáveis futuras ambições russas. Mas a curto prazo, as fragilidades do poder soviético, desafiado simultaneamente por outros inimigos internos e externos, permitiram aos finlandeses obter um Tratado de Paz (Tartu) muito favorável.
O problema ressurgiu em Agosto de 1939, depois da Assinatura do Pacto Molotov-Ribbentrop, quando Estaline se sentiu com liberdade de acção para redesenhar as fronteiras ocidentais da União Soviética. As propostas soviéticas, suaves de início (aluguer de algumas ilhas no Báltico com intuitos defensivos, propostas de permutas de territórios por forma a melhorar a sua situação defensiva – São Petersburgo não distava mais de 50 Km da fronteira finlandesa), vão endurecendo de tom. Os finlandeses aperceberam-se que a cobertura alemã desaparecera e que só podiam tentar ganhar tempo, porque a Segunda Guerra Mundial começara em Setembro de 1939.
A União Soviética lançou a sua ofensiva em 30 de Novembro de 1939, no começo do pico do Inverno, talvez convictos que as condições os favoreceriam. Na sua vertente política, a ofensiva soviética foi até bem montada. Quando a Sociedade das Nações (SdN), ainda viva mas no estertor da sua agonia, acusou a União Soviética de agressão não provocada contra a Finlândia, o representante soviético faz uma das rábulas mais cínicas da diplomacia moderna: Agressão? Pelo contrário, nunca as relações foram melhores, Molotov e Kuusinen acabaram de assinar um Tratado de Amizade! Falta esclarecer que Kuusinen era membro de um governo finlandês no exílio, de uma República Democrática da Finlândia, sob tutela soviética…
Na sua vertente militar (a Guerra de Inverno) é que as coisas correram muito mal para os soviéticos. Ao fim de um mês toda a sua campanha tinha-se revelado um fracasso total. O Inverno funcionou em proveito dos defensores, cujos planos militares dos últimos 20 anos tinham sido sempre de preparação para a contingência daquela invasão… Só que, ganha a reputação militar no campo de batalha (e perdida a correspondente entre os soviéticos…), faltava aos finlandeses o apoio político com que pudessem negociar com os invasores. Em Fevereiro de 1940, os soviéticos recomeçaram as operações e os finlandeses acabaram por ter de assinar um Tratado de Paz em Março de 1940, com as cláusulas exigidas pela URSS…
Em Junho de 1941, com a Operação Barbarrosa (a invasão da URSS pelos alemães), os finlandeses, em combinação com os invasores aproveitaram a ocasião para recuperar o que lhe fora retirado 15 meses antes, naquela que foi baptizada na Finlândia por Guerra de Continuação. Embora bem sucedidos nessa recuperação, tendo a Finlândia umas tradicionais fronteiras históricas com a Rússia, faltou-lhe, ao longo dos mais de três anos de conflito (Junho de 1941-Setembro de 1944), a solidez política para se expandir para muito mais além, receando a ampliação das inevitáveis retaliações soviéticas na eventualidade de uma vitória da URSS, como se veio a verificar.
A reputação militar finlandesa só se voltou a realçar em Junho de 1944, quando se mostraram novamente capazes de travar uma contra-ofensiva soviética, numa época onde a derrota alemã já era previsível (os aliados haviam acabado de desembarcar na Normandia). A posição política da Finlândia no grande conflito era, no mínimo bizarra: tratava-se de uma democracia, que era co-beligerante (mas não aliada) da Alemanha contra a URSS, que havia recebido uma declaração de guerra do Reino Unido, mas apenas em 6 de Dezembro de 1941, data em que as suas forças haviam transposto a antiga fronteira russo-finlandesa, e que não estava em guerra de todo com os Estados Unidos (embora estes tivessem rompido as relações diplomáticas)…
A combinação destes dois aspectos (político e militar) facilitou a assinatura de um Armistício em Moscovo em Setembro de 1944. O teatro de operações finlandês era completamente periférico em relação ao desenlace da Segunda Guerra Mundial e iria exigir aos soviéticos, novamente, imensos recursos militares. O que não impediu que as condições impostas pelo armistício fossem extremamente duras, idênticas às de 1940, mas ainda agravadas por indemnizações adicionais aos soviéticos. Numa das cláusulas, a Finlândia comprometia-se a expulsar as forças alemãs presentes no seu território, o que a levou à sua terceira guerra dentro da Segunda Guerra Mundial.
A Guerra da Lapónia, travada entre finlandeses e alemães, de Setembro de 1944 a Abril de 1945, foi uma guerra travada a meio gás onde os finlandeses procuraram incentivar os alemães a evacuar as regiões do norte da Finlândia que estes ocupavam, aparentemente para dificultarem o tráfego dos portos do Oceano Árctico por onde a União Soviética continuava a receber abastecimentos dos aliados (Murmansk), mas onde se encontravam as únicas minas de níquel que a Alemanha ainda controlava. Paradoxalmente, a maior parte da região disputada entre finlandeses e alemães veio a ser depois incorporada na União Soviética no fim da guerra.
Um dos efeitos das reparações devidas pela Finlândia à União Soviética (300 milhões de dólares) foi o de ter vocacionado uma parte substancial da sua indústria (sobretudo a pesada) para o mercado soviético, porque grande parte dessas reparações vieram a ser pagas em géneros. No pós-guerra, a economia finlandesa acabou por beneficiar com esse enorme mercado cativo, sedento da sofisticação ocidental. Mas durante a Guerra-Fria a expressão finlandização, tinha um conteúdo pejorativo, associado a uma democracia de estilo ocidental, com uma economia livre e com bons índices de bem-estar material, mas onde a liberdade estratégica do país fora sacrificada.
A queda da União Soviética (1991) foi também a queda de um certo modelo económico na Finlândia. A taxa de desemprego passou de 3,2% em 1990 para 16,6% em 1994. Em 1 de Janeiro de 1995 a Finlândia passou a fazer parte da União Europeia. Entretanto, houve que procurar novos mercados de exportação além de sofisticar a qualidade da produção, depois de décadas de habituação à clientela pouco exigente do mercado soviético. A transição foi custosa mas globalmente bem sucedida: a taxa de desemprego em 2006 cifrou-se nos 7,7%. O paradigma*** de uma marca da nova economia finlandesa é a Nokia, fabricante mundial de telemóveis.
Agora, que parece já ter sido ultrapassado o período de fraqueza russa, ficamos à espera de ouvir alguma declaração de Vladimir Putin ou de qualquer outro dirigente russo para voltar a ver a Finlândia no seu eterno jogo de equilibrar as amizades mais longínquas e as influências do seu vizinho gigante e continuar o seu eterno jogo de tentar passar entre os pingos da chuva… E para rematar um poste tão sério nada melhor que seleccionar, em vez de coisas mais solenes, aquele que considero um dos maiores monumentos da cultura finlandesa: o vídeo mais piroso de sempre: Armi e Danny! A não perder...
* Dieta é uma das designações de uma assembleia deliberativa.
O grande problema finlandês é que os vizinhos do outro lado ainda são piores… No seguimento das várias vicissitudes das várias Guerras Napoleónicas a Finlândia foi transferida da suserania sueca para a suserania russa em 1809. Apesar de no final da história (1815), tanto a Suécia como a Rússia estarem ambas do lado vencedor (contra a França), ao bom estilo da época, a Suécia foi compensada com a Noruega e a Finlândia preparou-se para um século de convivência com o Império Russo. A figura jurídica, tal como acontecia com a Polónia, era a de uma união pessoal do monarca: o Czar da Rússia era também Rei da Polónia e Grão-Duque da Finlândia.
O historial das relações entre o Grão-Duque e os seus súbditos é muito mais distendido do que o do Rei com os seus... Durante o período mais liberal do reinado do Czar Alexandre II (1855-1881), a Finlândia teve oportunidade de recriar a sua Dieta* (1863), que se pôde bater por alguns privilégios específicos, como o da identidade religiosa (evangélica), linguística (o finlandês foi equiparado ao sueco) e autonomia económica (moeda própria). Contudo os Czares que se sucederam, Alexandre III (1881-1894) e Nicolau II (1894-1917), travaram, quando não reverteram mesmo, essa tendência e o país estava maduro para a independência em 1917.
Note-se contudo que, ao arrepio da imagem retrógrada do Império Russo, a Finlândia czarista do princípio do Século XX estava na vanguarda em alguns aspectos sociais: os membros da Dieta passaram a ser todos eleitos em 1906, e foi um dos primeiros países a instituir o sufrágio universal – incluindo o voto feminino**. Depois da primeira Revolução Russa de Fevereiro de 1917, a Dieta finlandesa, que havia sido eleita em 1916, mas ainda não se reunira, foi convocada. Outro sinal da especificidade social finlandesa: mesmo em eleições realizadas durante o período czarista, havia na Dieta uma ligeiríssima maioria social-democrata (103 membros em 200)…
As relações entre o Governo Provisório russo, chefiado por Alexandre Kerensky, e a Dieta finlandesa não tardaram a azedar. Kerensky decretou a dissolução da Dieta. Não por causa do decreto de Kerensky, mas porque os sociais-democratas finlandeses agiam de forma concertada com os seus homólogos russos, de acordo com os ideais de então do internacionalismo, e os seus opositores agiam com o apoio evidente dos alemães, houve novas eleições que puseram os sociais-democratas em minoria na Dieta (Outubro de 1917). Sensivelmente um mês depois, os bolcheviques e Lenine alcançavam o poder em São Petersburgo.
A Dieta aproveitou esse momento de fraqueza do poder central russo para proclamar a independência da Finlândia (6 de Dezembro de 1917), para ela vir a ser reconhecida a 31 de Dezembro pelos soviéticos. E em Janeiro de 1918 começou a Guerra Civil finlandesa entre Vermelhos e Brancos, que se prolongou até Maio do mesmo ano. Tratou-se de uma guerra que tanto teve de disputa ideológica, quanto de disputa dos interesses estratégicos de duas potências (Rússia e Alemanha) travados por interpostas partes. O poder russo estava despedaçado, o alemão ainda intacto, e quando estes últimos decidiram participar directamente (Abril) na Guerra, o resultado ficou decidido.
A cobrança da conta da intervenção germânica traduziu-se na eleição pela Dieta, em Outubro de 1918, de um príncipe alemão, Frederico Carlos de Hesse, como novo Rei da Finlândia. Mas o reino nem tempo teve de ver o Rei (abdicou em Dezembro…) porque a derrota alemã no final da Primeira Guerra Mundial (11 de Novembro de 1918) tornou a deixar a República da Finlândia (Julho de 1919) sem potência protectora que a defendesse das inevitáveis futuras ambições russas. Mas a curto prazo, as fragilidades do poder soviético, desafiado simultaneamente por outros inimigos internos e externos, permitiram aos finlandeses obter um Tratado de Paz (Tartu) muito favorável.
O problema ressurgiu em Agosto de 1939, depois da Assinatura do Pacto Molotov-Ribbentrop, quando Estaline se sentiu com liberdade de acção para redesenhar as fronteiras ocidentais da União Soviética. As propostas soviéticas, suaves de início (aluguer de algumas ilhas no Báltico com intuitos defensivos, propostas de permutas de territórios por forma a melhorar a sua situação defensiva – São Petersburgo não distava mais de 50 Km da fronteira finlandesa), vão endurecendo de tom. Os finlandeses aperceberam-se que a cobertura alemã desaparecera e que só podiam tentar ganhar tempo, porque a Segunda Guerra Mundial começara em Setembro de 1939.
A União Soviética lançou a sua ofensiva em 30 de Novembro de 1939, no começo do pico do Inverno, talvez convictos que as condições os favoreceriam. Na sua vertente política, a ofensiva soviética foi até bem montada. Quando a Sociedade das Nações (SdN), ainda viva mas no estertor da sua agonia, acusou a União Soviética de agressão não provocada contra a Finlândia, o representante soviético faz uma das rábulas mais cínicas da diplomacia moderna: Agressão? Pelo contrário, nunca as relações foram melhores, Molotov e Kuusinen acabaram de assinar um Tratado de Amizade! Falta esclarecer que Kuusinen era membro de um governo finlandês no exílio, de uma República Democrática da Finlândia, sob tutela soviética…
Na sua vertente militar (a Guerra de Inverno) é que as coisas correram muito mal para os soviéticos. Ao fim de um mês toda a sua campanha tinha-se revelado um fracasso total. O Inverno funcionou em proveito dos defensores, cujos planos militares dos últimos 20 anos tinham sido sempre de preparação para a contingência daquela invasão… Só que, ganha a reputação militar no campo de batalha (e perdida a correspondente entre os soviéticos…), faltava aos finlandeses o apoio político com que pudessem negociar com os invasores. Em Fevereiro de 1940, os soviéticos recomeçaram as operações e os finlandeses acabaram por ter de assinar um Tratado de Paz em Março de 1940, com as cláusulas exigidas pela URSS…
Em Junho de 1941, com a Operação Barbarrosa (a invasão da URSS pelos alemães), os finlandeses, em combinação com os invasores aproveitaram a ocasião para recuperar o que lhe fora retirado 15 meses antes, naquela que foi baptizada na Finlândia por Guerra de Continuação. Embora bem sucedidos nessa recuperação, tendo a Finlândia umas tradicionais fronteiras históricas com a Rússia, faltou-lhe, ao longo dos mais de três anos de conflito (Junho de 1941-Setembro de 1944), a solidez política para se expandir para muito mais além, receando a ampliação das inevitáveis retaliações soviéticas na eventualidade de uma vitória da URSS, como se veio a verificar.
A reputação militar finlandesa só se voltou a realçar em Junho de 1944, quando se mostraram novamente capazes de travar uma contra-ofensiva soviética, numa época onde a derrota alemã já era previsível (os aliados haviam acabado de desembarcar na Normandia). A posição política da Finlândia no grande conflito era, no mínimo bizarra: tratava-se de uma democracia, que era co-beligerante (mas não aliada) da Alemanha contra a URSS, que havia recebido uma declaração de guerra do Reino Unido, mas apenas em 6 de Dezembro de 1941, data em que as suas forças haviam transposto a antiga fronteira russo-finlandesa, e que não estava em guerra de todo com os Estados Unidos (embora estes tivessem rompido as relações diplomáticas)…
A combinação destes dois aspectos (político e militar) facilitou a assinatura de um Armistício em Moscovo em Setembro de 1944. O teatro de operações finlandês era completamente periférico em relação ao desenlace da Segunda Guerra Mundial e iria exigir aos soviéticos, novamente, imensos recursos militares. O que não impediu que as condições impostas pelo armistício fossem extremamente duras, idênticas às de 1940, mas ainda agravadas por indemnizações adicionais aos soviéticos. Numa das cláusulas, a Finlândia comprometia-se a expulsar as forças alemãs presentes no seu território, o que a levou à sua terceira guerra dentro da Segunda Guerra Mundial.
A Guerra da Lapónia, travada entre finlandeses e alemães, de Setembro de 1944 a Abril de 1945, foi uma guerra travada a meio gás onde os finlandeses procuraram incentivar os alemães a evacuar as regiões do norte da Finlândia que estes ocupavam, aparentemente para dificultarem o tráfego dos portos do Oceano Árctico por onde a União Soviética continuava a receber abastecimentos dos aliados (Murmansk), mas onde se encontravam as únicas minas de níquel que a Alemanha ainda controlava. Paradoxalmente, a maior parte da região disputada entre finlandeses e alemães veio a ser depois incorporada na União Soviética no fim da guerra.
Um dos efeitos das reparações devidas pela Finlândia à União Soviética (300 milhões de dólares) foi o de ter vocacionado uma parte substancial da sua indústria (sobretudo a pesada) para o mercado soviético, porque grande parte dessas reparações vieram a ser pagas em géneros. No pós-guerra, a economia finlandesa acabou por beneficiar com esse enorme mercado cativo, sedento da sofisticação ocidental. Mas durante a Guerra-Fria a expressão finlandização, tinha um conteúdo pejorativo, associado a uma democracia de estilo ocidental, com uma economia livre e com bons índices de bem-estar material, mas onde a liberdade estratégica do país fora sacrificada.
A queda da União Soviética (1991) foi também a queda de um certo modelo económico na Finlândia. A taxa de desemprego passou de 3,2% em 1990 para 16,6% em 1994. Em 1 de Janeiro de 1995 a Finlândia passou a fazer parte da União Europeia. Entretanto, houve que procurar novos mercados de exportação além de sofisticar a qualidade da produção, depois de décadas de habituação à clientela pouco exigente do mercado soviético. A transição foi custosa mas globalmente bem sucedida: a taxa de desemprego em 2006 cifrou-se nos 7,7%. O paradigma*** de uma marca da nova economia finlandesa é a Nokia, fabricante mundial de telemóveis.
Agora, que parece já ter sido ultrapassado o período de fraqueza russa, ficamos à espera de ouvir alguma declaração de Vladimir Putin ou de qualquer outro dirigente russo para voltar a ver a Finlândia no seu eterno jogo de equilibrar as amizades mais longínquas e as influências do seu vizinho gigante e continuar o seu eterno jogo de tentar passar entre os pingos da chuva… E para rematar um poste tão sério nada melhor que seleccionar, em vez de coisas mais solenes, aquele que considero um dos maiores monumentos da cultura finlandesa: o vídeo mais piroso de sempre: Armi e Danny! A não perder...
* Dieta é uma das designações de uma assembleia deliberativa.
**Foi o terceiro país a fazê-lo, depois da Nova Zelândia e da Austrália. Seguir-se-iam a Noruega (1913) e a Dinamarca (1915).
*** Que bela ocasião para empregar a palavra da moda!
Nota: Os três mapas da Finlândia retratam a sua configuração sob domínio russo (1809-1917), entre guerras (1920-1940) e actual. O acesso ao Árctico ganho em 1920, veio a perder-se em 1940, conjuntamente com as regiões da Carélia, no Sul.
Nota: Os três mapas da Finlândia retratam a sua configuração sob domínio russo (1809-1917), entre guerras (1920-1940) e actual. O acesso ao Árctico ganho em 1920, veio a perder-se em 1940, conjuntamente com as regiões da Carélia, no Sul.
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