26 agosto 2007

ROLLERBALL

Rollerball é o título de um filme de antecipação de 1975, realizado por Norman Jewison e protagonizado por James Caan e John Houseman. Considero-o um excelente filme, inquietante e denso pelas várias questões que levanta (a história baseou-se num conto de antecipação que concorreu ao Prémio Pulitzer), mas que, apesar dessa sua densidade, acabou por registar um descomunal sucesso entre os de espectadores menos densos, que adoraram as cenas de acção do filme…

A ambiente do filme situa-se num futuro distante*, quando o governo mundial está a cargo duma agremiação de corporações, onde cada uma tem o monopólio da sua área funcional (há a da energia, dos transportes, habitação, alimentação, etc.) e com isso foram resolvidos os problemas básicos de subsistência de toda a humanidade. Mas há um problema político que resta por resolver: o da ocupação dos tempos livres da população. Foi para isso que se inventou o Rollerball!
O Rollerball tornou-se o jogo universal que sublima as paixões violentas da humanidade. Numa das frases de promoção do filme dizia-se: No futuro já não haverá guerras, mas haverá Rollerball, e noutra, A próxima guerra já não será travada mas jogada… O Rollerball trata-se de um jogo de regras necessariamente simples e extremamente violento, mas cativante: segundo consta, duplos, membros da equipa técnica e figurantes entretiveram-se a jogá-lo no intervalo das filmagens** no ringue construído para o efeito…

Quanto à história do filme propriamente dita, envolve a maior vedeta do Rollerball (James Caan) que começa a questionar o sistema onde está inserido e assim passa a ser apercebido como uma ameaça política pelos detentores do poder (as corporações representadas por John Houseman) por causa da sua popularidade entre a multidão***. A intenção daqueles passa a ser a de eliminar Caan, mas de preferência dentro de campo e por um adversário, nem que para isso seja preciso ir alterando as regras do jogo… As cenas de violência durante os jogos são tanto um aceno a precedentes históricos de sociedades saciadas, como a da Roma imperial e o seu Coliseu, como pretendem transmitir a condenação da violência pela saturação da sua exibição em cena, de uma forma que se assemelha à que Stanley Kubrick usara no filme A Laranja Mecânica (1972). O uso de música clássica nas duas bandas sonoras é apenas um exemplo dessa semelhança: o filme começa ao som da Tocata e Fuga BWV 565 de J.S. Bach.

Mas, ao contrário do que aconteceu com o filme de Kubrick, é muito provável que os autores de Rollerball se devam ter sentido bastante desapontados ao aperceberem-se que as expressões de maior apreço pelo seu filme vinham daqueles que haviam pegado na história pelo lado lúdico do jogo, esquecendo todas os outros problemas explícitos e implícitos levantados pelo filme: desde o da posse do poder, passando pelo da alienação das multidões até ao do estabelecimento das regras da prática desportiva.
E é precisamente sobre este último aspecto que o filme levanta uma questão que continuou em aberto e se tornou ainda mais importante passados 32 anos sobre a sua estreia: será praticável estabelecer limites morais para competições que se deixaram ultrapassar pela sua vertente de espectáculo? Se é o espectáculo o factor determinante a estabelecer esses limites na prática, qual é a verdadeira importância dos factores secundários, como a integridade física dos praticantes, por exemplo, que é nenhuma, em Rollerball?

(continua)

* Distante da época de realização do filme mas já próxima da actualidade: o ano é 2018…
** Supõe-se que deve ter sido de forma menos violenta do que a das partidas do guião….
*** Seria como se Luís Figo desse sinais de pretender passar a activista político.

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