Hoje, um dos artigos das páginas internacionais do Público (p. 14) dedica-se a uma análise geopolítica da situação do Mediterrâneo oriental, sobretudo baseada em material que havia sido publicado recentemente em dois jornais israelitas: o Yediot Ahronot e o Ha"aretz. Com chamada de primeira página, o artigo intitula-se Rússia desafia domínio norte-americano no Mediterrâneo com a reabertura de duas bases navais na Síria e está assinado pelas iniciais M.S.L. E o teor do mesmo está bem sintetizado no conteúdo do título.
Só que vale a pena avaliar devidamente a seriedade do desafio da Rússia aos Estados Unidos, usando a informação geográfica propiciada por um grande mapa da região. Assim, as ligações marítimas mais curtas entre a Rússia (acima, a amarelo claro) e a Síria (no extremo sul do mapa) teriam que se efectuar pelas costas que a primeira tem no Mar Negro. Mapas mais detalhados dessa região em particular poder-nos-ão esclarecer que, devido ao relevo, aquelas costas têm o notável inconveniente de não terem portos marítimos importantes (abaixo)…
É por causa disso que a frota russa no Mar Negro compartilha com a sua homóloga ucraniana os portos da Crimeia (trata-se da península no norte do Mar Negro), em resultado de um acordo bilateral entre os dois maiores países herdeiros da extinta URSS. Há um outro acordo, este multilateral, que permite que a Turquia tenha sempre a última palavra sobre a autorização de saída para qualquer navio de guerra que se apresente em Istambul e que queira atingir o Mar Mediterrâneo através dos estreitos do Bósforo e Dardanelos (abaixo)…
Pelo exposto, o artigo, de tão disparatado, merece a ironia de podermos assegurar que é altamente improvável que amanhã apareça de surpresa um couraçado russo disposto a bombardear as cidades de Israel sem que ninguém tivesse dado por nada…Aliás, o histórico dos acontecimentos da Guerra-Fria mostrou como o desafio soviético à VI esquadra norte-americana destacada para o Mediterrâneo nunca passou de um mito. A de uma hipotética esquadra russa, que seria naturalmente muito mais fraca, não passará de outro.
Compreende-se o teor do artigo se o enquadrarmos na grande disputa mediática* que se trava entre Israel e os países árabes pelo ganho das simpatias da opinião pública ocidental. Neste caso, descarada e desastradamente estão a querer empolar as movimentações russas de regresso aos países árabes e a querer transformá-las em grandes ameaças com ressonâncias dos piores períodos da Guerra-Fria. É preciso estar atento, mas também é preciso evitar que o jornalista do Público engula tão descuidadamente destas iscas com anzol e tudo…
É por causa disso que a frota russa no Mar Negro compartilha com a sua homóloga ucraniana os portos da Crimeia (trata-se da península no norte do Mar Negro), em resultado de um acordo bilateral entre os dois maiores países herdeiros da extinta URSS. Há um outro acordo, este multilateral, que permite que a Turquia tenha sempre a última palavra sobre a autorização de saída para qualquer navio de guerra que se apresente em Istambul e que queira atingir o Mar Mediterrâneo através dos estreitos do Bósforo e Dardanelos (abaixo)…
Pelo exposto, o artigo, de tão disparatado, merece a ironia de podermos assegurar que é altamente improvável que amanhã apareça de surpresa um couraçado russo disposto a bombardear as cidades de Israel sem que ninguém tivesse dado por nada…Aliás, o histórico dos acontecimentos da Guerra-Fria mostrou como o desafio soviético à VI esquadra norte-americana destacada para o Mediterrâneo nunca passou de um mito. A de uma hipotética esquadra russa, que seria naturalmente muito mais fraca, não passará de outro.
Compreende-se o teor do artigo se o enquadrarmos na grande disputa mediática* que se trava entre Israel e os países árabes pelo ganho das simpatias da opinião pública ocidental. Neste caso, descarada e desastradamente estão a querer empolar as movimentações russas de regresso aos países árabes e a querer transformá-las em grandes ameaças com ressonâncias dos piores períodos da Guerra-Fria. É preciso estar atento, mas também é preciso evitar que o jornalista do Público engula tão descuidadamente destas iscas com anzol e tudo…
* Um exemplo de uma notícia vinda do outro lado, mais habilidosa, mas também abocanhada com anzol e tudo por uma jornalista do Público intitula-se Palestinianos homenageiam o seu mais antigo prisioneiro.
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