16 de Dezembro de 1921. Esta estreia do Concerto para Piano nº 3 em Dó maior reúne uma ou duas curiosidades. A primeira delas é que a peça foi estreada com a interpretação ao piano do próprio Serguei Prokofiev. A segunda curiosidade é que, apesar do compositor ser russo, e dos europeus se continuarem a considerar a si próprios como o centro do mundo cultural, a estreia teve lugar em Chicago, e o acompanhamento foi da Orquestra Sinfónica de Chicago, dirigida pelo maestro (alemão) Frederick (Friedrich) Stock. Mesmo que os Estados Unidos ainda não dispusessem dos quadros próprios para o efeito, a Primeira Guerra Mundial produzira uma tal transferência de riqueza do Velho para o Novo Mundo, que se tornara muito mais fácil promover certos acontecimentos do outro lado do Atlântico. Fossem eles estreias de música erudita, fossem eles descobertas sobre física nuclear. A versão do Concerto para Piano nº 3 que se reproduz acima não é obviamente a da estreia de Dezembro de 1921, mas uma versão bastante posterior, mas ainda interpretada por Prokofiev, em Junho de 1932 e acompanhado pela Orquestra Sinfónica de Londres, dirigida pelo italiano Piero Coppola.
A "descoberta sobre física nuclear" lincada é de 1942, portanto muito posterior ao final da Primeira Guerra Mundial.
ResponderEliminarDe facto, não foi a Primeira Guerra Mundial mas sim o hitlerismo que conduziu a grande migração de cientistas europeus para os EUA.
«De facto», a experiência e as figuras ridículas a que já o tive que expor repetidamente, parecem não ter produzido qualquer efeito «científico» no cautela como exibe as suas «certezas».
ResponderEliminarComo sei que não é pessoas dada a abstracções, para lhe demonstrar que algumas teses mais promovidas tendem a distorcer o que aconteceu mesmo, socorri-me da primeira lista que encontrei na internet de cientistas que emigraram para os Estados Unidos: Prova da minha neutralidade, não fui eu que a elaborei; tem 11 nomes.
Lavoura: vá lá vê-la!
Como seria de esperar, apenas dois nomes se referem a cientistas emigrados antes de 1914. Seguem-se seis nomes de cientistas emigrados no período de entre guerras. Estão apresentados por idade e não pelo ano em que emigraram para os Estados Unidos:
- Albert Einstein ((1879–1955)
- Gerty Cori (1896–1957)
- Albert Claude (1898–1983)
- Maria Goeppert Mayer (1906–1972)
- Enrico Fermi (1901–1954)
- Hans Bethe (1906–2005)
Ora acontece que, por detrás das figuras mais conhecidas de Einstein e de Fermi, a bioquímica Gerty Cori era checa de origem e foi para os Estados Unidos em 1922, o biólogo Albert Claude era belga de origem e emigrou em 1928 e a física Maria Goeppert Mayer era polaca fê-lo em 1930. Ora Hitler (e o «hitlerismo» que invoca) só chegou ao poder na Alemanha em 1933. Só ocupou a Checoslováquia em 1938. A Polónia em 1939. E a Bélgica em 1940. Aliás, em rigor e porque você é um chato, o «hitlerismo» também não teve nada a ver com a partida de Enrico Fermi de Itália em 1938, já que o problema deste último era com o fascismo italiano.
Portanto, repetindo o que dissera, este processo de contratação de quadros científicos (e artísticos) começou nos anos 20 e em várias disciplinas, já que, até aí, o símbolo do progresso científico da América se circunscrevera praticamente às invenções de Thomas Edison.
Sobre o período de entre-guerras, há depois a versão de propaganda, que essa circunscreve-se a realçar, de tudo isso, os casos de cientistas das áreas de física e que fossem judeus que, por assim dizer, fugiram ao Hitler para criar a bomba atómica, que é uma bela estória, cheia de moral, mas é apenas uma parte do que aconteceu.
este processo de contratação de quadros científicos (e artísticos) começou nos anos 20
EliminarOK, convenceu-me.
Uma pequena correção ao seu comentário, Goeppert-Mayer era alemã (embora tivesse nascido em território que atualmente é polaco, mas nesse tempo era alemão) e foi educada na Alemanha, e emigrou para os EUA, não porque tivesse sido contratada pelos americanos, mas porque se casou com um americano.
OK, convenceu-me.
ResponderEliminarDepois de dezenas de vezes repetido, esta insistência em pretender passar por um céptico que é convencido não colhe Lavoura. Mais: torna-se tola porque repetidamente desacreditada.
Eu explico: um verdadeiro céptico desconfiaria tanto do que aqui lê, como desconfiaria das teses de propaganda que me costuma contrapor, e que argumenta como suas, tendo-as "engolido sem qualquer critério crítico, com isco, anzol e chumbo, tudo ao mesmo tempo"...
Aqui neste episódio a sua ingenuidade - chata - despontou mais uma vez, com a sua "crença" na "fábula" dos cientistas judeus que, perseguidos por Hitler na Europa, foram para a América construir a bomba atómica. Repito-me: não é mentira, é bonito, tem moral e estou mesmo convencido que esse seria o aspecto que José Hermano Saraiva exploraria num seu programa «Horizontes da Memória»...
Agora, apreciar a rivalidade tecno-científica entre a Europa e os Estados Unidos é outra coisa. A propósito e porque crítica que o exemplo que dei porque é de 1942, portanto muito posterior ao final da Primeira Guerra Mundial: os trabalhos mais importantes sobre a estrutura celular do belga Albert Claude começaram a partir de 1945. Algumas descobertas científicas acontecem quando têm de acontecer.
Um outro aspecto engraçado neste poste que vai ao arrepio dos lugares comuns que costuma aqui defender, Lavoura, é que a estreia deste concerto nº3 para piano teve lugar na Chicago dos anos 20, a mesma cidade que se costuma associar a Al Capone e ao «gangsterismo».
ResponderEliminarAproveito para lembrar aqui um número musical do filme Victor, Victoria . Ora, adoptando a sua convencionalidade, este dois aspectos da mesma cidade seriam dificilmente compatíveis.
Confesse, Lavoura, desta não se lembrou.
Queres ver que, eu, com o treino que tenho levado, já consigo colocar "objecções à Lavoura", melhores que as do Luís Lavoura original?