1 de Dezembro de 1971. Numa reunião alargada das cúpulas dirigentes da Liga dos Comunistas da Jugoslávia, realizada propositadamente na recatada Quinta de Karađorđevo (Voivodina), o presidente Tito põe fim a (mais) um daqueles desvios ideológicos que caracterizavam os países comunistas da Europa oriental do período da Guerra-Fria. Só que, como neste caso se tratava da frágil Jugoslávia, a questão das ideologias misturava-se com a dos nacionalismos. Ali, as aberturas da «Primavera» local haviam-se exprimido sobretudo na Croácia e haviam-se concretizado em maiores grau de autonomia para Zagreb, tanto no plano financeiro, quanto cultural. O problema é que as concessões de Belgrado pareciam ter desencadeado uma dinâmica reivindicativa - greve de 30.000 estudantes universitários - a que urgia pôr cobro. Significativamente, sabe-se hoje que Tito sinalizou previamente tanto Washington quanto Moscovo que o ia fazer. Esta reunião de Karađorđevo de há 50 anos serviu para purgar as cúpulas comunistas na Croácia e para dar "carta branca" aos novos empossados para reprimir os protestos em curso e os que inevitavelmente se seguiriam. A 2 de Dezembro, Tito (que era, ele próprio, um croata) anunciou as medidas adoptadas num discurso transmitido para toda a Jugoslávia. Contudo e paradoxalmente, considerando a ressonância mediática internacional que costumavam ter estas crises existenciais dos países comunistas, neste caso concreto da Jugoslávia os acontecimentos passaram quase completamente desapercebidos. Assim como a repressão que se seguiu. Por exemplo, esta notícia do Diário de Lisboa de então, é a primeira que esse jornal dedicou ao assunto, e isso aconteceu apenas em 13 de Dezembro de 1971, quase duas semanas depois dos factos aqui evocados. Considerada a sua posição neutral entre os dois blocos, a Jugoslávia era tratada a Ocidente como uma ditadura comunista, mas bastante fofinha.
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