21 dezembro 2021

A GREVE QUE PÔS TODO UM PORTUGAL A FUMAR CIGARROS ESPANHÓIS

21 de Dezembro de 1981. Esta greve inocente - se houver greves inocentes... - que o Diário de Lisboa anunciava há precisamente 40 anos, irá ter, pelo arrastamento do conflito laboral, repercussões inusitadas no bem estar de uma parte significativa dos portugueses: os fumadores. Que, esclareça-se, eram percentualmente muito mais do que acontece hoje em dia. As greves, intermitentes e depois continuadas começaram a esgotar os stocks de maços de cigarro nos revendedores grossistas e nas tabacarias, a ponto de o produto começar a escassear e se começarem a fazer filas para os açambarcar, ao bom estilo das sociedades comunistas avançadas da Europa de Leste. Até os que votavam APU não estavam a achar piada às consequências destas justas lutas dos trabalhadores da Tabaqueira. O governo, que era da AD e portanto do outro lado oposto do espectro político, deu por si a descobrir que existia um outro produto estratégico que, ao contrário do petróleo, nunca fora contemplado nos planos de contingência estratégica. Se é verdade que uma sociedade não funciona sem combustíveis, também é verdade que uma sociedade não se consegue aturar a si mesma com uma apreciável percentagem dos seus membros enervada com a traça da privação de nicotina. Vai daí, e antes que a revolução chegasse às ruas, o governo autorizou a importação de milhões de maços de cigarros estrangeiros, de onde se destacava, de longe, estes cigarros espanhóis da marca Fortuna (imagem acima) que, omnipresentes e independentemente do que haviam sido anteriormente os gostos do fumador (dos "classe média" SG Gigante, SG Filtro, SG Ventil, Português Suave, até às marcas mais populares, Provisórios, Três Vintes ou Kentucky), durante uns tempos produziram um verdadeiro nivelamento democrático do fumador português.

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