31 dezembro 2021

ANO NOVO, GOVERNO ANTIGO

31 de Dezembro de 1921, «para fechar 1921» e às «5 horas da tarde», o Diário de Lisboa sentia-se com a confiança de informar «duma maneira optimista» os seus leitores que «o governo Cunha Leal não cairia» ainda mesmo antes da «conferencia que o sr presidente do ministério» teria «com o chefe de Estado». Por muito que a esquerda republicana socialista o tenha tentado nos anos que se seguiram ao 25 de Abril, por óbvias razões políticas, não há exercício possível que consiga transformar estes anos da 1ª República (1910-1926) numa outra coisa senão numa anomalia continuada.

2 comentários:

  1. não há exercício possível que consiga transformar estes anos da 1ª República (1910-1926) numa outra coisa senão numa anomalia continuada

    É verdade que foram anos extremamente anárquicos.

    Mas terão sido de facto uma anomalia?

    Eu sugiro que noutros países da Europa (por exemplo, na Espanha) este período foi igualmente anárquico.

    E sugiro que, antes da implantação da república, a partir de 1890, tivemos um período também bastante anárquico (embora menos que após a implantação).

    A anarquia foi em parte causada pelos costumes políticos da época, que não eram assim somente em Portugal. E em parte foi causada pela disrupção da Guerra Mundial, que também não teve impacto somente em Portugal.

    Naturalmente que A. Teixeira pode ter outro ponto de vista.

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  2. não há exercício possível que consiga transformar estes anos da 1ª República (1910-1926) numa outra coisa senão numa anomalia continuada

    Se tivesse tratado essa minha frase que elegeu transcrever com o método que ela mereceria, i.e., começando por dar a devida importância ao que aparece ao princípio o Lavoura compreenderia (...talvez...) que a ênfase está na expressão exercício possível (que não há...) e não na expressão anomalia continuada por onde se foi dispersar em considerações.

    A questão a que dou relevo não se põe em termos das circunstâncias políticas da época, muito menos da sua comparação com os restantes países europeus, a questão que eu aqui destaquei põe-se em termos da narrativa histórica deste período (1910-1926) que, a certa altura, precisamente logo depois do 25 de Abril, substituiu a que fora a do Estado Novo.

    Ore eu, que aprendi no percurso escolar uma, e depois a outra versão, em que a segunda desmontava a anterior dizendo que se tratara de propaganda, apercebi-me mais tarde que a operação escolar não passara de uma mera troca de propagandas.

    Aliás, a versão posta a correr da 1ª República Portuguesa era de tal modo (absurdamente) benigna, que serviu de catapulta para que alguns historiadores da direita ganhassem os seus louros desmontando vários aspectos da tese que o regime republicano fora uma democracia a que a ditadura militar de Maio de 1926 pusera fim.

    Aquilo que aqui tenho publicado baseado no Diário de Lisboa de há cem anos comprova repetidamente quanto isso esteve bem longe da verdade. E eu só muitos anos depois, já os meus avós haviam falecido, é que pude compreender as referências (e os temores) que eles possuíam quando se viviam os tempos do PREC.

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