13 dezembro 2021

«ELEIÇÕES EM JANEIRO, PRENDE-SE O RENDEIRO»

O que é incómodo neste tweet - a ponto de provocar uma reacção do presidente da República que, como de costume, devia era ter ficado calado... - é que ele faz uma crítica mais profunda do que seria esperado pela coreografia tradicional da nossa comunicação social. Por essa coreografia, os políticos servem para criticar os políticos; os jornalistas gostam de fingir-se neutros. Só que neste caso, para além da crítica ao fuzué encenado pelo director da Judiciária, aproveitando o Sábado que é um dia tradicionalmente desprovido de notícias, a crítica de Rui Rio incidiu sobretudo na boiada dos canais noticiosos que o perseguiu, ao director, pelo resto do dia, em que ele saltitou de canal em canal repetindo sempre a mesma história, em que, ao contrário do que se deduzia das suas palavras e do que se noticiara, descobria-se afinal depois que nem fora a PJ a intervir directamente no assunto... Ou que a extradição seria para acontecer só daqui por vários meses... Ou seja, conhecendo-lhe os vícios, quando uma operação mediática destas é bem montada, o governo nem precisa de se mexer para recolher os eventuais louros da notícia, já que é a própria dinâmica do circo mediático que o faz. E os jornalistas ficaram muito chateados quando alguém os acusou de se demitirem de escrutinar a notícia e de parecerem, ao menos, neutrais. Só que é assim que, magnânimo, «António Costa felicita Polícia Judiciária pela detenção de João Rendeiro» - esta frase é tanto mais significativa quanto este é, indiscutivelmente, um assunto de justiça, e o primeiro-ministro celebrizou-se, noutras circunstâncias, pelas frases acentuando a separação entre «aquilo que é da justiça e aquilo que é da política». Mas isso era por causa do embaraço das acusações que pendem sobre José Sócrates, se calhar aqui essa distinção já não vale... Por seu lado, o Marcelo «não comenta casos» (de justiça), mas agora (mais uma vez...) comentou. Terá sido por causa da saturação com toda esta hipocrisia, que o desbocamento (de Rui Rio) se estará a tornar uma virtude na política portuguesa? Por alguma razão surgiu um ditado popular que desde este fim de semana se tornou tradicional: Eleições em Janeiro, prende-se o Rendeiro.

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