Por esta vez vamos socorrer-nos do antetítulo do artigo de há cem anos do Diário de Lisboa, que dava conta do impasse político que então se vivia. Resumindo o artigo, as facções militares responsáveis pela quartelada que ocorrera em Outubro de 1921 (no seguimento da qual ocorrera o triste episódio da Noite Sangrenta) haviam-se cindido em dois comités revolucionários rivais. Uns instalara-se no ministério do Interior, o outro no governo civil de Lisboa. E, se os dois comités se se entendiam na recusa do nome de Cunha Leal para chefiar o governo, já não se conseguiam entender quanto ao nome que propunham como alternativa. O irónico da situação é que, segundo se depreende da notícia, Cunha Leal (que fora ferido por se opor aos assassinatos da Noite Sangrenta, daí a hostilidade dos revolucionários) contaria com o apoio dos partidos políticos («Os partidos mostram-se dispostos a dar-lhe - Cunha Leal - todo o apoio...») e esse apoio seria também extensível ao próprio presidente da República, António José de Almeida. E no entanto a notícia acaba dando nota que uma "comissão" de revolucionários "procurara" este último «indicando-lhe o nome de Mesquita (de) Carvalho». Para quem esteja interessado em conhecer a continuação da história, diga-se que António José de Almeida se marimbou para a comissão que o procurara assim como para os restantes «outubristas», por quem sentia uma indisfarçável hostilidade e nomeou mesmo Francisco Cunha Leal como chefe de governo mas com a missão de organizar eleições legislativas, que vieram a ter lugar - uma quase coincidência - a 29 de Janeiro de 1922. Como se sabe, as próximos eleições legislativas serão a 30 de Janeiro de 2022.
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