Com alguma chancela de independência, por ter sido elaborado pela ONU, o relatório acima dava conta do progressivo endividamento dos países comunistas do Leste junto das instituições financeiras capitalistas do Ocidente. A notícia que o Diário de Lisboa de há quarenta anos publicava havia sido empurrada lá para o interior do jornal (página 12) e preservara o fraseado técnico e estéril da redacção original. Mesmo assim percebia-se que o montante da «dívida para com o Ocidente» era grande, 67 mil milhões de dólares, embora não se enfatizasse que a dívida crescera 10 mil milhões e 11,7% em apenas um ano (de 1979 para 1980) e que um terço daquela dívida era da Polónia, onde, naquele mesmo dia, o sindicato Solidariedade convocara uma greve geral - uma greve geral a sério. Sobretudo, evitava-se extrair a conclusão que algumas das sociedades ditas socialistas, mais a sua «insistência» no «desenvolvimento social», só se sustentavam devido aos capitais (e aos capitalistas) do Ocidente - como eu já aqui recordara, de resto.
Mas essa conclusão não era o final da história, nem o culminar do desplante, para quem lesse aquela edição do Diário de Lisboa. Quem folheasse a página das dívidas dos países comunistas para a página imediatamente adjacente ir-se-ia deparar com esta interessante crónica engajada de um jornalista eurocéptico da ANOP, que, numa altura em que se debatia e discutia a adesão de Portugal à CEE (os comunistas eram obviamente contra) baptizava aquela organização «clube de hipotecados»(!). Até hoje apetece dizer, tal era a incongruência: um «clube de hipotecados» tão próspero, que até lhes sobravam umas coroas para emprestar aos outros, do outro lado da «Cortina de Ferro»!
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