27 março 2021

A FORÇA DA CLASSE OPERÁRIA

Para quem gostar de evocar efemérides, assinale-se que hoje se completa o 40º aniversário da primeira demonstração da central sindical Solidariedade contra o governo comunista da Polónia. Apesar de ter sido denominada suavemente por greve de advertência, a greve parcial de quatro horas (das oito da manhã ao meio dia, como se pode ler acima) teve um sucesso retumbante, com uma adesão estimada entre os 12 a 14 milhões de grevistas. Fazendo uma proporção com o que isso poderia representar em Portugal, seria uma adesão equivalente a quase 4 milhões de trabalhadores, o que seria muito mais do que aquilo que o PCP e o seu braço sindical, a CGTP, se atreveriam à época a reivindicar em situação equivalente dentro de portas. Não seria só pelas óbvias razões ideológicas mas também por prosaicas razões aritméticas que a situação laboral na Polónia era - e permanecerá - um assunto tabu para os comunistas portugueses.

3 comentários:

  1. Fico na dúvida se o António Teixeira gostaria que as "demonstrações" da CGTP fossem maiores do que têm sido. Mas em comparação com as da UGT, não terá razão de queixa.

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  2. É verdade que, em Democracia, onde há eleições livres, eu considero aquilo que designa como as "demonstrações" da CGTP como um exercício redundante. Os níveis de insatisfação social repetidamente proclamados nos últimos 40 anos pela CGTP - 3 milhões de grevistas costuma ser a "tabela" das greves gerais - teriam tido alguma vez expressão correspondente nas urnas. Porém, António Marques Pinto, forçoso é reconhecer que o PCP jamais ultrapassou por muito o 1 milhão de votos...

    Fica a restar aquela teoria conspiratória que estabelece que quando os grevistas são "esclarecidos" pelos líderes sindicais estão "lúcidos" mas quando vão individualmente para a cabine de voto dá-lhes "qualquer coisa"...

    Em contrapartida, em Ditadura, como era o caso da Polónia onde 99,5% dos votos iam para "a Frente", o nível das adesões a uma greve geral - que é sempre uma greve política - pode servir de orientação sobre qual será a (im)popularidade do governo. Mas o princípio que acima enunciei mantêm-se válido: deixem as pessoas votar em liberdade que o grau de descontentamento popular traduz-se nas urnas (são as maravilhas da Democracia, da verdadeira): não sei se o António Marques Pinto ainda se lembra mas em 1989 o regime polaco acabou por deixar o Solidariedade concorrer a apenas 35% dos lugares de deputados e ganhou-os todos...

    Era um caso em que, aí sim, se podia dizer com propriedade que "era mesmo preciso mudar de políticas"...


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  3. Ficou por dizer o óbvio: que as greves a sério são específicas e circunstanciais, de acordo com as convergências das necessidades dos trabalhadores e não propriamente para a promoção do slogan "assim se vê a força do PC".

    Será o caso emblemático da greve de hoje nos CTT, onde o sindicato conotado com a CGTP e os comunistas resolveu convocar a greve para mostrar a sua força específica que acredito que seja muito maior que a das outras 10 organizações sindicais combinadas. Mas isso é lá uma gramática entre elas e a administração, pode não ter necessariamente nada a ver com os "justos anseios dos trabalhadores"...

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