Muitas vezes, a História descarta pequenas histórias que, quando são devidamente recordadas, se prestam àquelas Grandes Ironias da História, que eu tanto gosto de evocar aqui no Herdeiro de Aécio. A 1 de Março de 1971 explodiu uma bomba no Capitólio em Washington. A bomba explodiu à uma e meia da manhã, numa das casas de banho do edifício e um telefonema anónimo avisara o chefe da polícia do edifício da sua presença uma meia hora antes da detonação. Considerou-se que a intenção da explosão da bomba era protestar contra o envolvimento norte-americano no Vietname, nomeadamente no apoio dado à operação Lam Son 719, e as suspeitas sobre a autoria do atentado recaíam sobre os radicais de extrema-esquerda - posteriormente veio a descobrir-se que os autores haviam sido membros da organização terrorista Weatherman. Mas, muito mais interessante do que aconteceu dia 1, foi o que aconteceu no dia seguinte, quando o establishment político e mediático local reagiu em uníssono ao que acontecera. Uma «Onda de Fúria», é assim que consta do título da notícia do jornal português do dia seguinte, fazendo-se eco do que se publicava na América. E são esses superlativos que apetece justapor ao que aconteceu 50 anos depois, a 6 de Janeiro deste ano, onde, se calhar, o emprego da mesma expressão «Onda de Fúria» para descrever a reacção institucional à invasão do Capitólio não seria particularmente judicioso... Faz-me sorrir também o zelo de quem, em 1971 e para fomentar a indignação, se havia apressado a fazer logo uma estimativa dos estragos provocados pela bomba: 300.000 dólares (US$ 1.950.000 aos preços actuais). Em contraste, aquando da invasão do Capitólio em 6 de Janeiro passado, não reparei que se tivesse falado muito no valor dos estragos causados. Talvez pelo impacto e pelo valor simbólico das imagens. Só mais recentemente, mais de mês e meio passados sobre os acontecimentos, se adiantou uma estimativa a esse respeito de 30 milhões de dólares.
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