18 de Março de 1871. Proclamação da Comuna de Paris. Como acontecerá dali por um século, com o Maio de 1968, do episódio da Comuna de Paris produzir-se-á uma realidade histórica prosaica por um lado, e forjar-se-á uma lenda por outro, que só não poderá ser classificada de romântica, porque os propósitos dessa lenda tem um intuito político por detrás - embelezar a revolução socialista. Revolução essa que se pretendia fazer através de um frenesim legislativo: atente-se na proclamação acima, que já era a nº 41 no dia 29 de Março, 11 dias depois da proclamação, o que quer dizer que o novo regime, apesar de não exercer a sua autoridade fora das portas de Paris, andava, ainda assim, a produzir decretos para reformar a sociedade a uma média de quatro por dia... Ao contrário da agressividade documental, no terreno e do ponto de vista militar, a palavra de ordem era a defesa: as fotografias emblemáticas da Paris desse período são de barricadas guarnecidas do respectivo canhão. A que escolhi para enfeitar a evocação, estava instalada na Rua de Rivoli, mesmo no centro de Paris, junto ao Palácio do Louvre; sob as suas arcadas um sujeito de cartola e com as mãos à cintura - assinalado pela seta branca e que eu pretendo imaginar de uma condição social distinta dos militares - observa o dispositivo com um cepticismo que se adivinha pela linguagem corporal. Tinha razão: a Comuna de Paris virá a ser esmagada dali por um pouco mais de dois meses (21 de Maio) pelas tropas governamentais obedecendo ao governo republicano moderado de Adolphe Thiers.
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